As recentes notícias envolvendo Elon Musk e suas impressionantes inovações tecnológicas nos fazem refletir sobre o futuro que está se desenhando diante de nossos olhos. Musk anunciou avanços não apenas no desenvolvimento de foguetes, mas também na criação de robôs humanoides e robotáxis. E isso não é apenas um salto tecnológico; é uma janela para um futuro em que a automação irá afetar profundamente o mercado de trabalho global.
Essa perspectiva não é nova. Em 2014, o criador de conteúdo CGP Grey lançou um vídeo intitulado Humans Need Not Apply (Humanos Não Precisam Se Candidatar), discutindo exatamente esse cenário: a substituição massiva de empregos humanos por máquinas. O vídeo previu que profissões de diferentes setores seriam ameaçadas e que a automação não se limitaria a tarefas repetitivas, mas se estenderia a trabalhos que muitos consideravam "seguros" da revolução tecnológica.
A tecnologia sempre eliminou algumas funções e criou outras, mas o fenômeno atual será sem precedentes. Estamos prestes a testemunhar a extinção de centenas de profissões em um curto espaço de tempo
Hoje, estamos vendo essa realidade mais de perto. Robôs humanoides, que devem custar inicialmente em torno de 30 mil dólares, prometem inicialmente executar tarefas cotidianas como passear com o cachorro, receber correspondências e realizar outras atividades comuns. Mas podemos ver que existe a possibilidade de serem aplicados em outras áreas, o que levanta o questionamento: quais serão as próximas profissões a serem extintas?
Já podemos observar esse movimento de substituição em diversas áreas. No Brasil, uma profissão profundamente enraizada na cultura, a de porteiro, tem sido rapidamente substituída por portarias remotas. A figura do porteiro, uma presença constante nos edifícios brasileiros, é cada vez menos comum à medida que a automação avança. E o próximo na mira de Musk e da Tesla é Agostinho, da Grande Família, que também pode ser substituído por seus robôs-táxis. Esse fenômeno não se restringe ao Brasil. Nos Estados Unidos e em outros países, supermercados totalmente autônomos, onde clientes fazem suas compras sem interagir com caixas humanos, já são uma realidade. Em Curitiba, um supermercado lançou um estabelecimento 100% autônomo, onde não há funcionários realizando tarefas convencionais de atendimento, necessitando apenas de repositores de estoque.
Agora, imagine um futuro em que robôs humanoides assumem funções como operadores de caixa, repositores de estoque ou até operadores logísticos, demandando pouca ou nenhuma intervenção humana. Isso é apenas um exemplo de como essa transformação pode afetar muitos empregos tradicionais. No supermercado Muffato, por exemplo, a transição para a autonomia exige o uso de aplicativos para realizar compras, mas com a introdução de robôs humanoides, bastaria substituir os funcionários, sem necessidade de grandes mudanças nas operações dos supermercados.
Historicamente, a tecnologia sempre eliminou algumas funções e criou outras, mas o fenômeno atual será sem precedentes. Estamos prestes a testemunhar a extinção de centenas de profissões em um curto espaço de tempo, substituídas por robôs e inteligência artificial. A revolução industrial foi uma transição gradual, mas hoje, com o avanço vertiginoso da automação, muitas carreiras podem desaparecer da noite para o dia. Isso traz consigo enormes desafios sociais e políticos que não podem ser ignorados.
No Brasil, onde as leis trabalhistas são notoriamente rígidas, essa revolução tecnológica pode ter impactos devastadores. Como nossa sociedade e nossos legisladores irão lidar com a substituição em massa de empregos? O que será dos milhões de trabalhadores que perderão suas funções para máquinas? Como o país pode garantir a sustentabilidade econômica e social diante de uma transformação tão rápida e profunda? A rigidez das leis trabalhistas pode, na verdade, acelerar esse processo, já que os robôs não entram com processos trabalhistas, podem trabalhar muitas horas sem descanso e não exigem benefícios como férias ou 13º salário, tornando-os uma opção ainda mais atraente para empresas que buscam reduzir custos.
Além disso, essa mudança não é algo que possa ser impedido. O avanço da tecnologia é inevitável, e a automação continuará a se expandir, independentemente das tentativas de freá-la. A questão central que precisamos discutir é como nos prepararemos para esse futuro. A capacitação da mão de obra, o desenvolvimento de novas formas de trabalho, a adaptação de políticas públicas e a criação de uma rede de proteção social robusta serão cruciais para mitigar os impactos dessa revolução.
Estamos realmente preparados para viver em uma era onde o mantra será "humanos não são necessários"? As mudanças tecnológicas e os avanços na automação estão acontecendo em uma velocidade alarmante, e precisamos começar a nos preparar para um mundo em que o trabalho humano irá se tornar, em muitos casos, obsoleto.
Filipe Augusto da Luz Lemos é professor e pesquisador com especialização em ciências forenses e cibersegurança. Atua como professor pesquisador por cortesia no Forensic and National Security Sciences Institute da Syracuse University. Lidera pesquisas em Cibersegurança, Computação e Ciências Forenses. É doutorando pela UTFPR, com foco em segurança de redes e sistemas distribuídos.
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