Mobilidade urbana e sustentabilidade ambiental são dois dos principais desafios de cidades do mundo inteiro. A forma como municípios estão lidando com essas questões, no entanto, varia muito.
Com um rico histórico nessas áreas, Curitiba tem responsabilidade redobrada para continuar sendo referência do pioneirismo que melhora a qualidade de vida da população.
Nos últimos anos, a capital fez um minucioso trabalho de base voltado a dar um novo salto qualitativo no transporte público, com estruturação de projetos, viabilização de financiamentos, entre outras várias ações.
Fazem parte deste processo uma série de contatos, reuniões e debates com organismos nacionais e internacionais, o que, além de obtenção de recursos, afere credibilidade e demonstra a qualidade técnica dos projetos curitibanos.
Esse intenso processo começa agora a ganhar corpo concreto, como demonstra do recém-lançado chamamento público para testes em larga escala de ônibus elétrico.
Há um sem-número de fases que precisam ser vencidas com rigor para que ações envolvendo sistemas complexos como o de transporte sejam efetivadas.
Para eletromobilidade, Curitiba tem como horizonte o ano de 2025, quando terá início a nova concessão para o transporte público e a operação começará a ser feita em escala com veículos elétricos.
A mudança que se avizinha está correlacionada a dois grandes programas: o Novo Inter 2 e o Ligeirão Leste-Oeste, pelos quais os veículos elétricos estarão inseridos num novo modelo de mobilidade, com estações sustentáveis, interligações modais (ônibus, bicicleta, entre outros), ganho de eficiência, diminuição do tempo de translado, entre outras melhorias.
Esses projetos estabelecem um novo marco do transporte público da capital, uma evolução sobre uma plataforma que historicamente já contou com canaletas exclusivas, ônibus biarticulado e estações-tubo e agora traz o conceito de hubs de mobilidade inteligente para conectarem o transporte coletivo com a mobilidade ativa e compartilhada.
O setor de transporte gera cerca de 70% das emissões de gás carbônico na capital, incluídos aí outros modais, como o aeroviário e o ferroviário, além dos demais meios de transporte terrestre. Hoje, apenas 4% da frota de 1.100 ônibus da cidade funciona com energia limpa ou de baixa emissão.
Com a nova concessão, esse quadro passa a mudar de maneira significativa. No médio prazo, até 2030, um-terço (33%) da frota deverá operar com emissão zero; alcançando 100% até 2050.
Ou seja, para efeito de dimensionamento de impacto, em números da frota de hoje, seriam cerca de 370 ônibus deixando de emitir carbono poluente na atmosfera no médio prazo – um ganho para o meio ambiente e alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, seguidos com esmero pela capital paranaense.
Os automóveis são grandes vetores de emissão de poluentes e, como se vê nas ruas diariamente, muitos deles servem ao transporte de apenas uma pessoa. Por isso, cabe ao setor público oferecer alternativas de transporte sustentáveis, de qualidade e com conforto.
Daí que o Programa de Mobilidade Sustentável da capital, em desenvolvimento em conjunto com o World Resource Institute, ancora-se em quatro grandes estratégias: descarbonização da frota de ônibus, atração de usuários, promoção da mobilidade ativa e incremento da gestão de dados e inovação.
O trabalho diário e a capacidade de inovar constantemente constrói a cidade de amanhã. Planejamento e execução fizeram de Curitiba exemplo em mobilidade e sustentabilidade – e estão fazendo com que a capital continue a entregar legados que impactam a qualidade de vida da população.
Luiz Fernando Jamur, engenheiro civil, é presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e secretário de governo municipal.
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