Após um breve adiamento por conta de problemas no hidrogênio líquido de um de seus motores, a missão Artemis 1 tem uma nova data para o seu aguardado lançamento, segundo a Nasa, a agência espacial norte-americana: sábado, dia 3 de setembro, caso as condições técnicas e climáticas permitam.
Tudo em uma missão como a Artemis precisa ser realizado com o máximo de diligência para que planejamentos de quase duas décadas e bilhões de dólares investidos não sejam desperdiçados. Contudo, o lançamento da Artemis 1, que não será tripulado, é apenas o primeiro passo de uma série de testes até 2025, no qual veremos as capacidades e potenciais riscos de um retorno ao solo lunar desde que estivemos lá pela última vez, em 1972, com a Apollo 17.
De modo mais vital, os dois principais pontos de atenção para a Nasa nesse primeiro lançamento da Artemis são o seu mega foguete e a cápsula onde eventualmente estarão os astronautas da agência. Chamado de Space Launch System ou SLS (em português, Sistema de Lançamento Espacial), ele é o foguete mais potente já criado, e será capaz de lançar a Órion, nave que terá astronautas um dia, para uma viagem ao redor da Lua, a cerca 384 mil quilômetros, e retornar. O desafio será estabelecer uma operação de lançamento e retorno que o torne reutilizável em suas próximas missões, um total de seis nos próximos três anos.
Quanto à Órion, que estará representada na Artemis 1 por meio de diversos sensores, as observações serão focadas no funcionamento da integração do Módulo de Serviço Europeu (ESM), construído pela Airbus, aos módulos de Serviço e Comando, feitos pela Lockheed Martin. Até o momento, segundo a Nasa, a Órion tem muito de seus sistemas aviônicos e eletrônicos já montados. Mas os testes ambientais e de ciclos térmicos, sua capacidade estrutural de resistir à reentrada na Terra – aquecida a milhares de graus Celsius e com perspectiva de um enorme impacto na água – serão mostradas agora em condições reais.
A primeira missão de fato tripulada da Artemis com o intento de pisar na Lua deve ocorrer apenas em 2025, mas a Nasa já aposta em uma composição de equipe de até quatro tripulantes marcada pela diversidade. Há um interesse real em tornar esse retorno humano à Lua mais alinhado aos valores da Nasa e da sociedade do século XXI, promovendo uma visão diversificada para o futuro da exploração espacial. Já é garantido, conforme anunciado, que ao menos um dos astronautas da missão será uma mulher e outro não será caucasiano.
Pisar na lua novamente, após 50 anos, será algo novo e com uma perspectiva completamente diferente em uma era na qual a exploração espacial tem aspectos comerciais, com empresas como SpaceX e Blue Origin disputando novos domínios. O que a Artemis propõe, apesar de parecer repetido, são novos capítulos da nossa jornada às estrelas, como colocar um satélite na órbita da Lua e criar uma base para habitação humana, coisas que serão essenciais para entender como avançaremos para outros planetas no futuro.
Cássio Barbosa é mestre em Astrofísica pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e doutor em Astronomia pela Universidade de São Paulo. Foi coordenador do Observatório de Astronomia e Física Espacial da UNIVAP e atualmente é professor adjunto na FEI.
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