Em 1939 o precursor e mestre da psicanálise Sigmund Freud fugiu de Viena para Londres após os nazistas invadirem a Polônia. Na agenda de contatos de Freud, em seus últimos 6 meses de vida passados em Londres, consta o encontro dele com um professor de Oxford; não identificado.
C. S. Lewis foi um dos maiores apologistas cristãos do século XX, tanto na explicação dos conteúdos clássicos da fé, como pela proposição dos fundamentos do Cristianismo através da literatura fantástica.
Em 1939, Lewis atuava como professor de Oxford e participava de um círculo literário junto de J. R. R. Tolkien, autor de 'O Senhor dos Anéis' - o resto é história.
O filme “A Última Sessão de Freud” (2024, do diretor Matthew Brown) apresenta uma narrativa ficcional de um debate existencial entre Lewis e Freud. Assim, visualizamos suas ideias sobre a existência de Deus e o tema da religião de modo reflexivo e aprazível num interessante “filme literário", baseado no livro, "Deus em questão", de Armand M. Nicholi Jr.
A espiritualidade da modernidade no filme surge através das palavras do psicanalista Sigmund Freud ditas nas conversas diante de C. S. Lewis, nas quais ele discorre sobre princípios dos conceitos modernos do Ocidente. Estes definem a razão e ciência como fundamentos para que algum conhecimento seja considerado válido na cultura.
Enquanto isso, o literato C. S. Lewis surge no filme como um defensor dos fundamentos religiosos ocidentais e perspectivas clássicas da fé cristã.
Nesse contexto, há dois temas cinematográficos sobre a narrativa do filme que se deve destacar e apreciar pela condução do diretor.
Primeiro, somos convidados a partilhar de uma 'sessão terapêutica', em que, na verdade, tanto Freud quanto Lewis são tanto o terapeuta quanto o paciente um do outro. Especialmente pela 'sessão' ter se tornado uma conversa respeitosa e plena de compaixão deles - sendo esse um aspecto valioso do filme.
Em segundo, o modo em que tanto Freud como Lewis defendem seus pensamentos bastante contrários sobre temas tão essenciais, como a existência e natureza humanas, a religião dos homens e a Pessoa de Deus. Isso é algo que ambos expressam através de fortes opiniões, mas em meio a um relacionamento que se torna cordial entre os dois protagonistas.
O filme não avança nem ampla e nem profundamente nos assuntos destacados, antes, busca anotar princípios e afirmações de Freud e de Lewis sobre os temas. De modo que podemos visualizar tanto os conceitos essenciais de cada um, como ainda, o contraponto de princípios em que ambos procuram apresentar sobre tais conteúdos.
A ênfase é dada para a existência de Deus e a vivência da religião pela humanidade
O debate entre modernidade e cristianismo acerca do problema do Mal surge no terço final do filme, quando Freud questiona Lewis sobre a guerra cruel de Hitler e também sobre a sua própria doença, um câncer terminal.
C. S. Lewis responde duplamente, primeiro sendo sincero em dizer que realmente não sabe a resposta da questão; e depois, apresentando o seguinte pensamento, que era um argumento comum de suas palestras: "É a pergunta mais complicada que existe, não é? (...) E se Ele quer que nos aperfeiçoemos pela dor? Para percebermos que a felicidade verdadeira e eterna só é possível através Dele.
Se o prazer é o sussurro Dele, a dor é o megafone". Uma afirmação com base nas Escrituras, a partir do pensamento do Apóstolo Paulo dado na carta aos Romanos, em que explica como Deus irá salvar os eleitos oriundos da nação étnica de Israel: "Pois Deus colocou a todos debaixo da desobediência para que de todos tivesse misericórdia". (Rm 11, 32).
Os conceitos declarados por Freud e Lewis no filme, e a dinâmica da narrativa fílmica em que o debate se desenvolve, sem criar nem provocar um encontro violento entre esses dois baluartes, deveria servir de alerta para a humanidade neste século 21.
Especialmente porque tanto o pensamento clássico ocidental que valoriza a religião, como o pensamento moderno que valoriza a razão tem perdido espaço diante das ideologias progressistas; que negam estes dois pensamentos e buscam cancelar sua reflexão e propagação.
Então, assista o filme e aproveite para saber mais dos conceitos destes dois pensadores, além de visualizar o modo como se deve manter o respeito nas relações humanas - sempre. Para que a consciência existencial do ser humano seja protegida neste que é um de seus predicados mais essenciais; nossa liberdade de pensamento e expressão. Bom filme.
Ivan Santos Ruppell Júnior é professor de ciências da religião e autor do livro “Resenhas espirituais de meditações cinematográficas”.
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