Segundo estimativa da ONU, para alimentar 10 bilhões de pessoas, previsão para 2050, será necessário aumentar a produção agrícola em aproximadamente 30%. O desafio é: como garantir a segurança alimentar do mundo e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente? A resposta pode estar em soluções como a recuperação de pastagens degradadas, que podem ser convertidas para a agricultura.
Durante a COP28 (28ª Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas), evento ocorrido em Dubai, o governo brasileiro prometeu “desmatamento zero” na Amazônia até 2030, e também apresentou um ambicioso programa para recuperar as terras degradadas pela pecuária e tornadas impróprias para a agricultura. Para esse projeto deverão ser investidos 120 bilhões de dólares ao longo de uma década para recuperar 40 milhões de hectares de terras degradadas – aproximadamente o equivalente à área da Suécia – e permitir a expansão do agronegócio sem desmatamento. Isso significa que o Brasil pode aumentar sua produção agrícola e preservar suas florestas. O aumento da produção vai impulsionar o setor agrícola, que é um dos principais motores do crescimento brasileiro, com exportações massivas de produtos como a carne ou a soja.
A degradação da pastagem é um evento que ocorre ao longo do tempo, devido à perda de vigor e produtividade. Inicialmente, ocorre a redução dos teores dos nutrientes nitrogênio e fósforo no solo. Posteriormente, ocorre a degradação da qualidade da pastagem pelo excesso de plantas invasoras, de pragas e de doenças. Finalizando com a degradação do solo pela ausência de cobertura vegetal, o que provoca o aumento na compactação e erosão.
A agricultura brasileira já vem trabalhando na recuperação de pastagens degradadas. Segundo dados do Laboratório de Processamento de Imagens (Lapig) da Universidade Federal de Goiás, o Brasil recuperou, entre 2000 e 2021, quase 20 milhões de hectares de pastagens degradadas, de um total de cerca de 120 milhões de hectares. A degradação pode variar de um grau mais ameno até ao mais severo, como é o caso crítico da erosão do solo.
O sucesso da recuperação de áreas degradadas está alicerçado em várias inovações como o desenvolvimento genético de sementes, a tecnologia de máquinas agrícolas e as técnicas de manejo, como é o caso do sistema de plantio direto. Entretanto, o ponto básico para a recuperação das áreas degradadas é recuperar a saúde do solo, mediante as melhorias nas suas características químicas, físicas e biológicas.
A transformação de uma área de pastagem degradada em lavoura requer alto investimento. As áreas degradadas necessitam de uma limpeza, feita pelo uso de grades, mas também a aplicação de calcário e fertilizantes para recuperar e corrigir a acidez e repor os nutrientes perdidos. O calcário irá repor os nutrientes cálcio e magnésio, enquanto os fertilizantes devolverão os demais nutrientes essenciais para a vida dos vegetais.
O uso de fertilizantes é um fator que irá adequar o solo para a cultura agrícola a ser explorada na área. Graças aos nutrientes contidos nos fertilizantes, o solo se beneficia dos recursos necessários para permitir o bom desenvolvimento e crescimento das plantas. O salto da produção é atribuído em boa parte à melhoria no uso de insumos com efeitos diretos sobre a produtividade. De fato, o uso de fertilizantes se tornou um elemento-chave (estima-se que apenas os fertilizantes nitrogenados sejam responsáveis pelo incremento de cerca de 40% na oferta de alimentos no mundo). O Brasil passou a consumir muito mais fertilizantes do que a quantidade produzida internamente.
Podemos concluir que o manejo nutricional dos solos de pastagens degradadas, através do uso de fertilizantes, poderá gerar o aumento na produção de alimentos, garantindo a segurança alimentar para os 10 bilhões de pessoas que habitarão o planeta em 2050, mas também contribuindo para a preservação de florestas dos diversos biomas do Brasil. A preocupação crescente com sustentabilidade é apontada como mais um elemento essencial dos esforços pela regeneração do solo. Regras de comércio internacional mais rígidas, como a nova lei europeia sobre importação de alimentos de áreas com passivos ambientais, já estão batendo à porta.
Valter Casarin é coordenador geral e científico da NPV – Nutrientes Para a Vida.
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