Como boa parte do mundo acompanhou, desde o final de abril diversas regiões do estado do Rio Grande do Sul foram atingidas por fortes chuvas, que causaram não só enchentes, mas também tristes e comoventes imagens de uma população em intenso sofrimento. Durante os temporais, milhares de famílias foram forçadas a deixar suas casas por conta da água, e cerca de 478 municípios foram afetados, deixando mais de 182 mortos.
Ainda que as maiores perdas sejam humanas, o prejuízo econômico do desastre ambiental afetou de maneira brusca o mercado brasileiro. De acordo com um panorama apresentado em junho pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, a estimativa é de que o PIB do país tenha caído cerca de 20% no mês de maio, e os danos causados pelas chuvas nos bens do estado chegam ao valor de R$75 bilhões.
Na esfera da agricultura o cultivo mais afetado foi o do arroz, visto que 70% de todo cultivo do grão no Brasil ocorre no Rio Grande do Sul
Dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) antes dos eventos climáticos, mostravam que os produtores do estado deveriam colher cerca de 7,5 milhões de toneladas no final da safra.
Conforme dados lançados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), proximadamente 83% da colheita já teria sido feita antes da chuva se alastrar, restando “apenas” 150 mil hectares em regiões que incluíam as cidades de Santa Maria, Agudo e Dona Francisca, os municípios mais afetados pelas enchentes. Após o desastre, o Irga divulgou que em torno de 46 mil dos hectares restantes foram perdidos, que seria o equivalente a 5,22% do total semeado no estado.
Além do arroz, o Rio Grande do Sul destaca-se no setor da pecuária, voltado para criação de carne de porco, carne de gado e frango. Após a chuva dar uma trégua e a água abaixar, foram encontradas milhares de carcaças de animais de rebanho.
O estado é responsável por 11% da produção de carne de frango e 19% da produção de carne suína no país. De acordo com o governo do estado, as aves foram as mais afetadas, tendo cerca de 1 milhão de indivíduos adultos mortos.
Segundo dados da Embrapa, o Rio Grande do Sul é responsável por 12,26% da produção de leite do país, e aproximadamente 4,1 milhões de litros equivalem a 9,2 milhões de reais.
Com as chuvas, o fornecimento de energia foi prejudicado, fazendo com que os produtores ficassem dependentes de geradores para o resfriamento do leite, e quando acabava o combustível do equipamento a única solução era jogar o produto fora.
Além da interrupção de produção, as enchentes causaram danos em pontes e estradas utilizadas no transporte desses produtos, prejudicando a coleta e a distribuição. Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), o prejuízo financeiro no setor da agropecuária alcançou a marca de R$4 bilhões.
As chuvas no Rio Grande do Sul causaram um desastre de grandes proporções no agronegócio do estado, com impactos que se estendem para todo o país. A recuperação exigirá um esforço conjunto do governo, setor privado e sociedade civil, além de medidas para se adaptar às mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar para os meses que virão.
João Alfredo Nyegray é professor do curso de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUCPR.
Ana Julia Lang é estudante do curso de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e membro do Observatório de Negócios Internacionais da PUCPR.
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