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O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição neurológica que se manifesta desde o nascimento ou início da infância e acompanha o indivíduo por toda a vida. Ele reúne diferentes desordens do desenvolvimento, como o Autismo Infantil Precoce, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Desintegrativo da Infância, entre outros.
De acordo com o DSM-5, referência mundial no diagnóstico de transtornos mentais, o TEA é caracterizado por dois eixos principais: dificuldades na comunicação e interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento. Esses sinais podem variar bastante de pessoa para pessoa – por isso, o termo “espectro” é usado para representar diferentes níveis de intensidade e suporte necessários.
Falar sobre autismo é falar sobre diversidade. Cada pessoa dentro do espectro tem um conjunto único de habilidades, desafios e formas de ver o mundo
Enquanto algumas pessoas apresentam leve dificuldade de interação, outras precisam de apoio integral nas atividades diárias. Ainda assim, é importante destacar que muitas pessoas dentro do espectro possuem habilidades notáveis, como grande atenção aos detalhes, memória acima da média e foco em áreas de interesse específicas.
As causas do autismo ainda não são totalmente conhecidas. Pesquisas apontam que o TEA resulta da combinação de fatores genéticos e ambientais. Alterações genéticas espontâneas durante o desenvolvimento do feto e a herança familiar explicam parte dos casos, mas não todos. Aspectos como infecções, exposição a substâncias tóxicas, estresse materno e desequilíbrios metabólicos durante a gestação também estão sendo estudados como possíveis fatores de risco.
Os primeiros sinais costumam surgir nos primeiros meses de vida e tornam-se mais evidentes por volta dos 2 anos. Entre os principais comportamentos observados estão: dificuldade para manter contato visual e compreender expressões faciais; uso repetitivo da linguagem e dificuldade em manter um diálogo; apego intenso a rotinas e interesses específicos; movimentos repetitivos e sensibilidade a sons, luzes ou texturas. O diagnóstico precoce é essencial para favorecer o desenvolvimento da criança e permitir intervenções adequadas, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e terapias fonoaudiológicas.
No Brasil, muitas famílias enfrentam um longo caminho até o diagnóstico. A espera pode ultrapassar dois anos, especialmente na rede pública, onde há escassez de profissionais especializados e terapias disponíveis. Mesmo após o diagnóstico, o acesso ao tratamento é limitado e, em muitos casos, financeiramente inviável. As terapias especializadas podem ultrapassar R$ 10 mil por mês, sem contar medicamentos e acompanhamento multiprofissional. Esse cenário gera impactos financeiros e emocionais profundos. Pais e cuidadores relatam altos níveis de estresse, sintomas depressivos e sobrecarga física e mental. Além disso, a luta por direitos, o preconceito e a falta de inclusão em escolas e espaços públicos ampliam o sofrimento dessas famílias.
Segundo o Censo do IBGE de 2025, o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de autismo – cerca de 1,2% da população com dois anos ou mais. A condição é mais comum entre meninos e se manifesta principalmente entre 5 e 9 anos de idade. Esse dado revela não apenas o aumento da conscientização e da busca por diagnóstico, mas também um desafio urgente: o poder público precisa ampliar o acesso a serviços de saúde, educação inclusiva e suporte social.
Falar sobre autismo é falar sobre diversidade. Cada pessoa dentro do espectro tem um conjunto único de habilidades, desafios e formas de ver o mundo. O papel dos profissionais e da sociedade é garantir acolhimento, respeito e condições reais de inclusão. Com mais informação, empatia e políticas públicas eficazes, é possível transformar o cenário atual, oferecendo não apenas tratamento, mas também qualidade de vida e pertencimento para milhões de pessoas e suas famílias.
Sirlene Ferreira, psicóloga clínica, é pós-graduada em Psicanálise em Saúde, mãe de um menino autista, e proprietária da Fundação Conecta ABA.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



