A Black Friday acontece desde 1924 nos Estados Unidos, sempre na primeira sexta feira após o Dia de Ação de Graças. Com a globalização e o avanço da internet esse dia, de super ofertas no comércio, se espalhou pelo mundo todo. Atualmente, 129 países participam da Black Friday, mesmo sem celebrar o Dia de Ação de Graças.
Segundo pesquisa da Holiday Shopping Study, que entrevistou 20.500 consumidores em 23 países, no Japão a taxa de participação da população na Black Friday é de cerca de 43%. Já no Brasil, este percentual chega perto do 90%, similar aos americanos. Além disso, o que antes acontecia em uma única sexta, foi se ampliando e atualmente pode começar 15 dias antes da data e se estender até o Cyber Monday: promoções que acontecem dois dias após a Black Friday, na primeira segunda, porém voltada somente às vendas online.
Apesar de ser economicamente uma excelente data para o comércio, nós precisamos refletir sobre consequências negativas desse fenômeno para nossa sociedade. Junto com o aumento das vendas, proporcionalmente aumenta o transporte necessário para realizar tantas entregas e as emissões de carbono sobem exponencialmente. Além disso, o número de resíduos aumenta consideravelmente, pois ao receber esses produtos as pessoas vão descartar muito mais caixas, embalagens plásticas, sacolas.
Um dado preocupante é no setor de roupas, um dos queridinhos da Black Friday, que assume o o segundo lugar no ranking de mais poluente do mundo. Pesquisadores calculam que 10.000 peças de roupa vão parar no aterro a cada cinco minutos devido ao fast fashion. Sem contar os eletrônicos. Por exemplo, você sabia que para se fabricar um celular de 80 gramas são consumidos mais de 44 quilos de recursos naturais? Ainda, há o problema dos resíduos nesse setor também. Segundo dados da United Nations Environment Programme (UNEP), o mundo produz aproximadamente 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico e elétrico por ano.
Por outro lado, todo mundo quer usufruir dos descontos da Black Friday. Mas o que pode ser feito para minimizar esses impactos negativos? Alguns movimentos começam a surgir nesse sentido, como o Green Friday, um consumo diferente - responsável e sustentável. A ideia é apostar na reciclagem, na compra de fornecedores locais, na aquisição de produtos artesanais ou no consumo de brechós. Há uma empresa, por exemplo, que nesse dia recompra móveis usados. Outra que oferece reparos gratuitos em bolsas e malas. Além disso, os consumidores são encorajados a consumir de forma responsável: comprar de empresas que tenham produtos que se preocupam com o meio ambiente e respeitam as pessoas.
Outra ideia é que no dia 30 de novembro (primeira quinta após a Black Friday) seja um dia para celebrar a ação de doar: seja comida, dinheiro, objetos de segunda mão ou seu tempo como voluntário em uma causa importante. É o Giving Tuesday. Mais radical, o Buy Nothing Day é realizado no mesmo dia da Black Friday e incentiva lojas e marcas a se posicionarem contra a Black Friday. A ideia é que, ao invés de aderirem à onda de vendas, as empresas fechem seus negócios (online ou físicos) como um gesto de oposição ao consumismo. Por exemplo, a empresa sueca de moda masculina, Asket, nesse dia utiliza seus canais de mídia para educar os seguidores sobre problemas ambientais no setor da moda. Esta mudança de comportamento é urgente, necessária e está na mão de todos – empresas e consumidores. Passou da hora de nós ficarmos sentados esperando os outros fazerem algo. É preciso mudar nossas atitudes seja enquanto consumidores, gestores ou empresários.
Shirlei Camargo é branding manager da Nobis e professora de Marketing da UFPR;Claudia Coser é doutora e mestre em Administração na área de Estratégia e Organizações e fundadora da Plataforma Nobis.
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