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PIB
Imagem ilustrativa.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Ao longo dos últimos meses, observamos um movimento de apreciação do real, devido a um cenário mais favorável. No campo doméstico houve uma descompressão de risco diante da aprovação do arcabouço fiscal na Câmara. Inclusive, uma aprovação célere e com mudanças qualitativas superiores à proposta original. Já no cenário internacional, houve a resolução do limite do teto da dívida norte-americana, que afastou um evento extremo de calote da dívida da maior economia do mundo.

Em relação à China, apesar da perda de ímpeto da recuperação chinesa após a reabertura iniciada lá em novembro do ano passado por causa da pandemia, essa perda torna cada vez mais prováveis ajustes de política por parte do governo, justamente para impulsionar a atividade econômica. Isso pode ser benéfico para a economia brasileira, considerando que a China é o nosso principal parceiro comercial.

A bolsa brasileira está barata, e a redução da Selic contribui para o avanço da bolsa, tornando o investimento nas ações brasileiras mais atraente.

À frente ainda temos alguns desafios. As atenções se voltam para as discussões de metas de inflação, já que no final de junho o Conselho Monetário Nacional se reúne para discutir esse tema. Então, se considerarmos a manutenção do centro da meta em 3%, avanços em temas relevantes como a reforma tributária são fatores que podem contribuir para um dólar mais próximo de R$5,00 em dezembro. Digo isso, pois a nossa projeção ainda é de uma moeda americana em R$5,30 no final de 2023.

Outra discussão muito comum que surge quando se fala de câmbio neste momento é em relação ao contraste das políticas monetárias brasileira e americana. Isso porque nós temos um COPOM mais flexível e leniente, próximo do início de um ciclo de queda da taxa de juros. Por outro lado, nos Estados Unidos, temos um Federal Reserve que vai manter a taxa de juros no atual patamar até o final do ano, e talvez até elevá-la uma ou mais vezes em 2023.

À medida que a diferença de juros diminui, ou seja, quando a taxa Selic brasileira cai e a taxa de juros americana permanece no mesmo patamar, a atratividade do carry trade (operação de investimentos que pode ser opção para pessoas que buscam uma aplicação de longo prazo com boa rentabilidade) também diminui. Isso implica um aumento do risco para investidores estrangeiros que desejam comprar o real e investir no país, considerando que o risco Brasil é superior ao americano. E sendo menos interessante investir aqui, a consequência é negativa para o câmbio.

Todavia, há um ponto importante: a bolsa brasileira está com valuation baixo, ou seja, muito atrativa. Quando olhamos o preço sobre lucro projetado para os próximos 12 meses do índice, ele está cerca de um desvio padrão e meio abaixo da média histórica. Ou seja, a bolsa brasileira está barata, e a redução da Selic contribui para o avanço da bolsa, tornando o investimento nas ações brasileiras mais atraente, tanto para investidores internacionais quanto os locais. Tanto é assim, que maio foi o primeiro mês no período de um ano em que os investidores institucionais locais foram compradores líquidos de ações — compraram mais do que venderam. Esse movimento sinaliza que a onda de resgate de fundos que estamos vendo há meses está próxima do fim, e o investidor estrangeiro também percebe isso. Então, embora a atratividade do carry trade seja reduzida devido à redução do diferencial de juros, ainda assim a bolsa brasileira apresenta uma atratividade muito grande.

Olhando para o futuro, concluo que o cenário é positivo para o câmbio. Há diversas questões que são favoráveis a esse movimento de apreciação do câmbio, e por isso mantemos a projeção de R$5,30 para o dólar em dezembro deste ano; mas com viés de baixa, pois pode ser que em breve essa projeção seja revisada para baixo.

Antonio van Moorsel, estrategista-chefe e sócio da Acqua Vero.

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