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Historicamente, a esquerda brasileira e de alguns outros países está atrelada à ideia de que o capitalismo, incluído neste conceito a ideia de livre circulação de bens, serviços, conhecimento e capital, apenas desenvolveu os chamados “países centrais” e que tal modelo econômico nunca desenvolveria os países periféricos.
Tais alegações surgiram a partir de dados econômicos do século XIX e de boa parte do século XX, época em que se verificou que os países europeus e norte-americanos foram os grandes beneficiados pelo capitalismo. No século XX verificou-se a emergência do Japão e Coreia do Sul como novas potências econômicas, mas tal mudança sempre foi vista com ceticismo pelos críticos do capitalismo, como se isso não fosse comprovação suficiente de que o capitalismo pode tirar países da pobreza.
Ao contrário do que é pregado por muita gente no Brasil, o capitalismo no longo prazo é um excelente instrumento de erradicação de pobreza e de combate à desigualdade econômica entre países
Todavia, a emergência econômica dos países do Brics tem gerado novas reflexões sobre o efeito do capitalismo sobre a economia dos países periféricos. A velha turma socialista tenta explicar o sucesso chinês a partir de suas bases comunistas, mas é claro que tal pensamento não procede.
O que fez a China crescer foi o fato deste país ter decidido respeitar a propriedade dos investidores estrangeiros interessados em produzir em território chinês. Com simples medidas políticas de proteção à propriedade, de repente a China passou a ser uma boa oportunidade para os investidores dos países ricos lucrarem.
A China combinou o essencial para receber investimentos: a) tem um sistema político e jurídico que protege a propriedade; e b) tem mão-de-obra barata e relativamente qualificada. O fato de os chineses terem passado a investir em infraestrutura passou a ser um terceiro fator para atrair investimentos na produção.
A emergência do povo chinês foi uma consequência direta do fato dele ter provado ao mundo que a China é um bom lugar para se investir. E ser um bom lugar para investir significa ser um lugar que dá lucro para os investidores. A China nada mais fez do que se adequar ao capitalismo, aproveitando o fato de que existem pessoas com dinheiro sobrando nos países desenvolvidos. O que a China percebeu é que para os investidores estrangeiros é mais lucrativo investir numa China capitalista do que investir em seus próprios países, sendo assim o país asiático tirou o máximo de proveito da situação para se desenvolver.
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O capitalismo é movido pelo lucro e qualquer país que deseje atrair investimento estrangeiro deve mostrar que é um país lucrativo. Enquanto houver livre circulação de bens, serviços, conhecimento e capital no mundo sempre haverá uma discrepância entre a lucratividade de produzir em um país rico e em um país pobre. O país mais pobre tende a ser mais lucrativo pelo fator “mão-de-obra barata” e pelo fato de normalmente terem disponíveis matéria-prima barata.
Ou seja, ao contrário do que é pregado por muita gente no Brasil, o capitalismo no longo prazo é um excelente instrumento de erradicação de pobreza e de combate à desigualdade econômica entre países, justamente devido ao fato do país mais pobre ser mais barato para o produtor. Se nos séculos XIX e XX viu-se poucos casos de países periféricos se desenvolvendo, isso deve-se ao fato de tais países terem adotados políticas antipropriedade e de restrição à livre circulação de bens, serviços, conhecimento e capital, mas também pelo fato de naquela época os países centrais ainda estarem em um estágio inicial do capitalismo, onde ainda havia muita pobreza entre eles, não tendo havido abundância de capital para investir nos países periféricos na ordem de magnitude que se viu nas últimas décadas.
Em suma, o estágio onde o capitalismo se encontra é amplamente favorável aos países periféricos, pois o enriquecimento dos países tradicionais criou uma abundância de capital que está sendo usada para investir em países onde há boa oportunidade de lucro. Se o mundo continuar mantendo princípios capitalistas e de livre circulação de bens, serviços, conhecimento e capital, a tendência é que muitos outros países saiam da pobreza além dos Brics.
Postas tais colocações, temos que para um país pobre se desenvolver no estágio atual do capitalismo basta que ele mostre ao mundo que é um país lucrativo, tomando as medidas necessárias para tal. Isso pode parecer óbvio para algumas pessoas, mas no caso brasileiro nosso governo mostra uma má compreensão a respeito desse mecanismo básico do capitalismo, já que continua adotando políticas antiquadas que só diminuem o lucro das empresas que atuam no Brasil.
Se o modelo econômico atual do mundo se manter igual nos próximos séculos, o que se espera é que a pobreza seja erradicada em todos os países capitalistas, sendo que os primeiros na fila do desenvolvimento são naturalmente aqueles países atualmente mais lucrativos para o investidor estrangeiro.
Mas o que pode dar errado nesse modelo? O que pode impedir que todos os países se desenvolvam? Tais ameaças seriam o surgimento de problemas globais novos, como um eventual esgotamento de recursos naturais no mundo e problemas climáticos.
Pedro Augusto de Almeida Mosqueira é bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Direito Financeiro e Tributário pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e advogado no Rio de Janeiro.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



