A cotação do dólar desempenha um papel muito relevante na economia brasileira, pois afeta diretamente nossos índices internos de inflação. O impacto dessa variação cambial se manifesta de várias maneiras na vida cotidiana dos cidadãos. Por exemplo, o preço de produtos importados, como o trigo argentino (essencial para a produção de pães e massas, responsável por 83% das importações do produto pelo Brasil), os insumos industriais do leste asiático e até mesmo o petróleo e seus derivados, influenciam diretamente – e indiretamente – em nosso custo de vida por aqui.
Entender como e por que o dólar interfere em nossa inflação é importante para monitorar e mitigar eventuais efeitos adversos na economia do país (e também em nossas finanças pessoais). O primeiro passo para começar a compreender o verdadeiro impacto do dólar é saber como este afeta os preços internos. Por essa razão, elenquei três formas:
Preços de produtos importados: a relação mais direta entre o dólar e a inflação é vista nos preços dos produtos importados. Uma desvalorização do real frente ao dólar torna os produtos importados mais caros, contribuindo para o aumento da inflação. Isso afeta não apenas produtos de consumo direto, mas também componentes e matérias-primas importadas usadas na produção nacional.
Custos de produção: muitas indústrias brasileiras dependem de insumos importados. Quando o dólar está alto, o custo desses insumos aumenta, elevando os custos de produção. As empresas frequentemente repassam esses aumentos aos consumidores, resultando em inflação de custos. Expectativas inflacionárias: a cotação do dólar pode influenciar as expectativas dos agentes econômicos sobre a inflação futura. Se os mercados esperam que o real continue a se desvalorizar, empresas e consumidores antecipam aumentos de preços, o que pode acelerar a inflação atual por meio de um processo autorrealizável.
Além disso, existem fatores de risco que podem agravar o aumento de preços internos, como, por exemplo, a dependência de importações. O Brasil é um grande importador de produtos tecnológicos e petroquímicos, que são cruciais para diversas cadeias de valor. A flutuação do dólar impacta diretamente o preço desses produtos, reverberando por várias camadas da economia.
O segundo fator de risco é a dívida pública. O serviço da dívida pública do país também é afetado pela cotação do dólar. Quando o real se desvaloriza, o custo em reais para honrar dívidas denominadas em dólares aumenta, podendo exigir ajustes fiscais que influenciam a política monetária e os índices de inflação.
Por fim, temos justamente a política monetária, pois o Banco Central do Brasil pode intervir no mercado de câmbio para estabilizar o real ou ajustar a política monetária, elevando taxas de juros para conter pressões inflacionárias originadas de um real fraco. Essas ações têm efeitos colaterais significativos na economia, incluindo o custo de crédito e investimentos.
Apesar de muitas pessoas continuarem acreditando que a cotação do dólar é algo distante de nosso dia a dia, podemos ver que esta variável afeta sim diversos gatilhos da inflação do Brasil. Por esse motivo, em um mundo cada vez mais conectado, uma gestão eficiente da taxa de câmbio é essencial para manter a saúde econômica e promover o crescimento sustentável de um país.
João Victorino é administrador de empresas, professor de MBA do Ibmec e especialista em finanças pessoais. É idealizador do canal A Hora do Dinheiro.
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