Ministros dos governos democráticos-progressistas, de Itamar a Temer, têm se reunido para manifestar descontentamento com as políticas do atual governo. Eles estão corretos ao alertar o Brasil sobre riscos que corremos em diversas áreas.
Mas dificilmente se uniriam em propostas comuns para o futuro. Passamos 26 anos no poder discordando entre nós sobre o que o governo do momento propunha; agora, nos aliamos contra o governo do momento.
Nada indica que teremos uma aliança duradoura por um Brasil diferente daquele que prevemos para o futuro. Tudo leva a crer que os “erros” grosseiros do radicalismo do atual presidente consolidam seu bloco fiel, levando-o ao segundo turno; da mesma forma que a radicalização do PT parece consolidar sua ida ao segundo turno. E os ex-ministros que hoje se unem contra o governo estarão divididos, cada um com seu candidato.
A unidade afirmativa de um bloco democrático-progressista parece impossível nestes tempos de posições sectarizadas. Nos governos dos partidos desses ex-ministros, eles preferiram alianças com grupos antagônicos a se aliar a legendas próximas, cada qual dono de sua verdade e de sua voracidade pelo poder, em vez de formar um pacto de governabilidade entre eles.
Nada indica que os líderes que podem ser chamados de democratas-progressistas terão a clarividência para elaborar um programa comum
Em 2015, um grupo de senadores foi recebido pela presidente Dilma e tentou a construção de uma unidade democrática progressista para tirar o Brasil da crise em que seu governo havia jogado o país, por causa da irresponsabilidade fiscal das pedaladas. Ela preferiu seguir sozinha. O resultado foi o aprofundamento da crise e o seu impeachment.
Em agosto de 2018, outro grupo de parlamentares sugeriu que os candidatos a presidente se aliassem para evitar o segundo turno entre dois extremos. Mas foram repudiados. Cada um dos candidatos dizia que a proposta visava eliminá-lo da eleição ganha. Apenas um deles chegou a dois dígitos, quase todos tiveram menos de 5% dos votos. Isso pode se repetir em 2022.
Nada indica que os líderes que podem ser chamados de democratas-progressistas terão a clarividência para elaborar um programa comum e abrirem mão de suas candidaturas em favor de outra, ou alguma candidatura que os unifique.
A observação dos nossos líderes nos faz imaginar que Bolsonaro e Haddad, ou outro do PT que Lula escolher, se não ele próprio, serão os dois nomes que estarão à disposição na urna para o eleitor escolher.
Os ex-ministros que têm se reunido para manifestar correta oposição aos desastres atuais prestariam um grande serviço se fossem além da crítica ao presente e tentassem fechar programas setoriais que unificassem essas forças com propostas para o futuro. Porque precisamos insistir com esperança de que é possível caminhar para uma unidade propositiva por um novo Brasil com coesão e rumo.
Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.
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