
Ouça este conteúdo
A tensão entre diversidade e meritocracia reflete um embate mais amplo sobre os critérios que norteiam decisões no mundo organizacional. Enquanto a diversidade é amplamente promovida como necessidade contemporânea, a meritocracia, conceito fundador da civilização, tem perdido viço. A diversidade surge como uma legítima busca por representatividade, mas sua exacerbação gerou o identitarismo, que despedaça o indivíduo e dá ao cidadão subalternidade. Esse embate enfraquece, ao mesmo tempo, os defensores do mérito e os promotores da inclusão, atrasando a sociedade e as organizações.
Nas organizações a diversidade é longeva. O sóbrio Michael Porter, em A Vantagem Competitiva das Nações, 35 anos atrás, destacava seu papel na competitividade. Segundo ele, a diversidade cultural e étnica, como a do Brasil, fortalece a inovação e a adaptação, sendo um diferencial no cenário global. O Brasil é diverso e integra imigrantes como poucas nações. Somos gigantes nessa competência.
O desafio é evitar que a ênfase na diversidade leve à erosão da meritocracia, garantindo que a inclusão se consolide sem comprometer a potência do indivíduo. É ser diverso sem perder a excelência
Mas essa riqueza só gera progresso sob um sistema meritocrático. A diversidade só é efetiva quando há um sistema de mérito que permita aos melhores talentos, para além da origem, galgar posições de liderança e influência. Afinal, seria possível a Marie Curie ganhar dois Nobel (Física, 1903, e Química, 1911) ou uma balconista chegar a gerente sem o mérito entre os dentes?
Friedrich Hayek, em O Caminho da Servidão, alerta que sistemas que ignoram a competência individual sufocam a inovação e a liberdade econômica. Já Peter Drucker ensina que a gestão eficaz e o resultado exigem decisões guiadas pelo mérito e desempenho. O desafio é evitar que a ênfase na diversidade leve à erosão da meritocracia, garantindo que a inclusão se consolide sem comprometer a potência do indivíduo. É ser diverso sem perder a excelência. Infelizmente, alguns sistemas educacionais, notadamente públicos, já quase aboliram a repetência, ferindo desde cedo a cultura do mérito e do progresso individual.
No ciclo dialético – tese, antítese e síntese – estamos no meio, numa espécie de Antítese Rixosa. Urge rumar para a Síntese, num equilíbrio que ilumine as oportunidades inclusivas sem mitigar o talento e o esforço como motores da prosperidade. Assim avança a civilização: do foguete que pousa de ré à ventania de Usain Bolt e aos saltos de Simone Biles. Diversos e meritocráticos têm que fumar o cachimbo da paz.
Marcello Beltrand é consultor em Relações Institucionais.
VEJA TAMBÉM:
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



