No último ano, temos experimentado uma significativa escalada da taxa de câmbio, com impactos nos preços dos bens e matérias primas importados, preços de commodities que são determinados em dólares, além de serviços, sobretudo de turismo de brasileiros realizados no exterior.
O problema da depreciação cambial é seu impacto sobre os preços, ainda mais com um mercado de trabalho aquecido e baixa ociosidade, onde as pressões inflacionárias são repassadas mais rapidamente para o consumidor final. Com os efeitos inflacionários da depreciação cambial, o Banco Central precisa elevar os juros.
O presidente do nosso país se queixa com frequência dos juros elevados. No entanto, a falta de sua convicção na importância do controle dos gastos públicos e ataques contra a política de juros do Banco Central são elementos chaves para se entender os atuais juros altos e crescentes
Existem incertezas mundiais ligadas às guerras, ao crescimento da economia chinesa e às eleições americanas, mas a principal causa da escalada do dólar reside em problemas internos, sobretudo na questão fiscal. Os analistas econômicos vêm apontando essa fragilidade da economia brasileira faz muito tempo, onde reformas são fundamentais para mudança da trajetória do crescimento da dívida pública em relação ao PIB, o que permitiria a redução de juros de forma sustentável.
O presidente do nosso país se queixa com frequência dos juros elevados. No entanto, a falta de sua convicção na importância do controle dos gastos públicos e ataques contra a política de juros do Banco Central são elementos chaves para se entender os atuais juros altos e crescentes. A trajetória de crescimento da dívida pública em relação ao PIB gera incertezas em relação à capacidade futura de pagamento da dívida pública. Essa trajetória se mantém mesmo com arrecadações recordes de impostos, o que mostra que os gastos do governo estão avançando a passos largos.
O aumento da incerta em relação à capacidade de pagamento futuro da dívida, que tem levado à depreciação cambial, além dos gastos públicos crescentes em um momento de mercado de trabalho aquecido e baixa ociosidade, explicam os juros altos, sendo que eles afetam a dinâmica da dívida pública, tornando a situação ainda mais complicada. Dessa forma, os juros são resultado das condições internas que dependem de ações do próprio governo e não uma causa.
Para resolver o problema dos juros altos, o governo precisa focar em uma agenda que reduza o crescimento dos gastos públicos de forma estrutural, ou seja, com reformas que desvinculem os gastos mínimos de educação e saúde em relação à receita pública e de benefícios sociais em relação ao salário-mínimo. Adicionalmente, é preciso melhorar a eficiência dos gastos que já são realizados, inclusive em relação a contratação de servidores públicos.
Não existe mágica de baixar os juros na marra e achar que os problemas da economia se resolverão. Uma redução dos juros sem as condições necessárias vai gerar problemas inflacionários, além de mais incertezas sobre a economia, depreciações cambiais adicionais, levando a um ciclo de aumento inflacionário, o que seria bastante nocivo para a economia e população brasileiras.
Os gastos públicos precisam ser realizados com responsabilidade. Os ministros da Fazenda e do Planejamento tentam convencer o presidente a seguir a trajetória correta, mas a sua fixação nos aumento de gastos, seja por questões ideológicas ou por conselheiros mal preparados, tem levado ao caminho oposto ao que ele almeja.
Luciano Nakabashi é doutor em economia e professor associado da FEARP/USP.
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