A evolução – podemos chamar assim – do sistema de ensino-aprendizagem para que o EAD ganhasse mais espaço foi gritante nos últimos anos. Foi o setor da educação superior que mais sentiu este impacto, com o aumento da oferta de cursos e o vertiginoso crescimento das matrículas nesta modalidade. Era esperado que, somente a partir de 2030, o número de alunos matriculados em cursos EAD ultrapassasse as matrículas na modalidade presencial, porém isso aconteceu já em 2022.
A pandemia foi um importante catalisador, mas por muito tempo o ensino superior presencial se apresentava como uma alternativa inviável para uma realidade social em consolidação. O deslocamento do trabalho para a unidade de ensino, por exemplo, é um obstáculo muito grande, pois cabe destacar que a maioria dos estudantes no ensino superior é formada por adultos trabalhadores.
Além disso, manter uma agenda de 4 ou 5 dias de aulas em sala, por mais de 3 horas, é uma variável de inadequação à realidade de uma sociedade pós pandemia – que se habituou ao remoto e ao uso das chamadas de vídeo até para as atividades sociais e de trabalho. Considerando esse cenário, a educação não poderia ser desenvolvida de outra forma. Caso contrário, o necessário crescimento no acesso às oportunidades não aconteceria.
O ministro da Educação, Camilo Santana, e o seu quadro de executivos mais próximos se mostram contrários ao EAD, duvidando de sua qualidade com base em informações inverídicas. Uma delas é a de que os cursos são 100% a distância, o que é impossível pela própria regulação do MEC. Outra é a falácia sobre a formação presencial se mostrar mais competente do que a EAD, enquanto dados do próprio ENADE não mostram isso.
Apesar disso, a educação à distância mediada por tecnologia é uma realidade social importante e que tende a se expandir pela facilidade de atendimento das necessidades de uma população de adultos trabalhadores, que moram em lugares distantes do trabalho e não tem a disponibilidade de um turno para estudar.
O movimento do MEC se posicionando contra o EAD tem o apoio de instituições que não conseguiram se atualizar tecnológica e metodologicamente para incluir esta modalidade. Elas sentem a queda de matrículas e esperam que, com um torniquete, o MEC estanque o ingresso no ensino a distância, retomando a grande procura pelo presencial.
Cabe a consideração de que, para que esse conto de fadas aconteça, é preciso “combinar com os russos”. Firmar um pacto com o aluno que não consegue se locomover em grandes distâncias ou dedicar de 3 a 5 dias por semana aos estudos convencionais. Pois, hoje, ele já se adaptou aos recursos tecnológicos e à liberdade de horários para fazer a escolha de uma graduação.
A crença de que o presencial volte a ser uma alternativa de ensino superior é uma utopia. Da mesma forma que a natureza não consegue fazer com que uma borboleta perca as asas e volte a ser lagarta.
Assusta acreditar que, quase no final do primeiro quarto do século 21, a gestão pública se debata para questionar a evolução tecnológica e não foque energia para que a educação seja ainda mais acessível, diversa e flexível, principalmente pensando naqueles mais distantes dela.
A grande verdade é que gerir olhando pelo retrovisor é a estratégia dos pequenos de ideias – e dos limitados em termos de inovações. É quase impossível acreditar que o Ministro da Educação não tenha a clareza da relevância social de uma metodologia de ensino como a EAD.
Não podemos questionar a natureza a todo custo, e sim ver a beleza e as possibilidades da transformação. A exemplo da borboleta, o EAD tem a diversidade das cores das suas asas e também permite ir longe, através de ferramentas como a internet. Desta forma abrimos, ainda mais, o universo social do estudante adulto e jovem, que trabalha e que tem outras atividades pessoais.
César Silva é diretor presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos.
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