Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

O ensino superior como vetor para o crescimento econômico

(Foto: Javier Trueba/Unsplash )

Ouça este conteúdo

O acesso à educação superior cresceu significativamente nas últimas décadas e isso tem impacto na economia. De acordo com os dados do Censo da Educação Superior (Inep/MEC), o número é de 9,97 milhões de matriculados em 2023, em comparação aos 2,6 milhões do ano 2000. Além disso, cerca de cinco milhões fazem seu curso na modalidade à distância. Nesse percurso, observamos transformações no propósito e no impacto do ensino superior na economia.

As políticas implementadas e as dinâmicas decorrentes demonstram a existência de realidades distintas em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Em comum está a visão de que a ensino superior ocupa o status de instrumento principal para o progresso da economia. O grande desafio que se apresenta, nesse sentido, é pensar em sistemas educacionais inclusivos que promovam, para além de credenciais para o mercado de trabalho, a autonomia, a cidadania e o bem-estar social.

Um levantamento da Universidade Federal de Itajubá mostrou que, para cada real investido em um estudante universitário, há um retorno três vezes maior à economia

Recentemente, os economistas Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, e Ludger Woessmann, da Universidade Ludwig Maximilian, de Munique, apresentaram o conceito de knowledge capital (capital de conhecimento, em tradução livre). De acordo com os autores, o crescimento econômico no longo prazo é dependente muito das competências cognitivas da população, ou do capital intelectual de uma nação.

Nessa linha, a educação é vista como um recurso necessário para a ampliação da capacidade inovativa da economia e para o desenvolvimento de novos produtos e processos. Também é facilitadora da transmissão do conhecimento necessário para compreender e processar as novas informações e implementar as novas tecnologias, como habilidades cognitivas agregadas, todos promotores do crescimento econômico.

Esse conceito dá continuidade às principais teorias e abordagens que tratam da relação entre a educação e a ciência econômica, que tem origem na teoria do capital humano. Os dados em nível individual, observados tanto num recorte mundial como no Brasil, corroboram com a relação positiva entre anos de escolarização e rendimentos individuais, além das questões relativas à possibilidade de mobilidade social. O Banco Mundial identificou um aumento nos rendimentos individuais próximos a 17% para os graduados em relação aos demais níveis de escolarização.

De outra parte, outros estudos, em nível macroeconômico, que trataram da relação entre qualificação do fator trabalho e o desempenho da economia, demonstram que a presença de trabalhadores mais qualificados, incluindo aqueles com ensino superior, além de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, está associada às taxas mais elevadas de crescimento econômico.

VEJA TAMBÉM:

Um levantamento da Universidade Federal de Itajubá mostrou que, para cada real investido em um estudante do ensino superior, há um retorno três vezes maior à economia. Outra publicação, de pesquisadores da UFRGS, evidenciou uma clara relação entre o crescimento do valor adicionado fiscal (VAF) à presença de instituições de ensino superior nas regiões onde estão inseridas. Portanto, a educação superior não impacta apenas os indivíduos que dela se apropriam, mas, principalmente, nos retornos sociais de uma nação e sua economia.

Diante de tais evidências, a relação positiva entre o avanço educacional e o crescimento econômico é inegável – e no Brasil, a oportunidade para avanços é imensa: considerando a participação do trabalho em nosso PIB (40%) e um incremento de produtividade de 20% com a educação superior, o impacto estimado é de R$ 0,80 trilhão ao PIB. Somado ao efeito multiplicador do consumo, a expansão de instituições dessa natureza poderia acrescer R$ 1,76 trilhão à nossa economia.

Todavia, para que possamos obter a plenitude desse potencial, é necessário investir, concomitantemente, em um ensino básico de qualidade, que garanta uma formação inicial sólida, além de dar oportunidade aos brasileiros de alcançar a etapa superior. Precisamos de políticas de estado que tornem esta uma realidade, numa integração entre instituições públicas e privadas.

A educação é chave não somente para o crescimento individual: é fundamental para que o Brasil possa alcançar seu lugar como país desenvolvido. Cabe a nós, como nação e sociedade, agirmos para que isso aconteça – e para que o capital do conhecimento seja o vetor para um futuro melhor para todos.

Cleide Fátima Moretto, economista e diretora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo (UPF), e Nivio Lewis Delgado, advogado e presidente da Fundacred.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.