Os estágios em organizações internacionais de prestígio como a ONU e a OEA são vistos, por muitos, como o caminho ideal para iniciar uma carreira internacional. Contudo, essa percepção ofusca um problema sério: a perpetuação da desigualdade. A prática de oferecer estágios não remunerados cria barreiras invisíveis que limitam o acesso a oportunidades para jovens de baixa renda, especialmente os provenientes do sul global.
Aceitar um estágio sem remuneração é, na verdade, um privilégio. Somente aqueles com apoio financeiro podem se dar ao luxo de arcar com os custos de viver em cidades caras como Genebra e Nova Iorque, onde muitas dessas organizações internacionais estão sediadas. Em contrapartida, jovens de origem humilde, sem essas condições, veem-se excluídos ou forçados a aceitar situações insustentáveis que afetam seu desempenho e até mesmo a saúde mental.
Se o objetivo é construir um futuro global mais equitativo, devemos garantir que as portas das organizações internacionais estejam abertas para todos
Uma pesquisa recente, conduzida pelo Global Internships Survey, revelou que 56% dos estagiários internacionais não recebem qualquer tipo de compensação financeira. Nos campos de diplomacia e relações internacionais, esse número é ainda mais alarmante. A justificativa usada por muitas dessas organizações internacionais é que a experiência adquirida compensa a falta de pagamento, mas essa é uma visão que ignora o custo real envolvido.
Participar de um estágio não remunerado não deveria ser um luxo acessível a poucos. A falta de apoio financeiro impossibilita que muitos jovens sequer considerem essas oportunidades. Enquanto alguns conseguem se dedicar integralmente a essas vagas, graças ao suporte familiar, outros simplesmente não têm como sustentar-se, especialmente em cidades com altos custos de vida. O resultado é uma concentração de oportunidades nas mãos daqueles que já possuem vantagem socioeconômica, o que contradiz o próprio ideal dessas instituições de promover inclusão e igualdade.
Além disso, muitos desses estágios exigem dedicação integral, o que impossibilita a conciliação com outro emprego remunerado. Mesmo estágios de meio período não oferecem flexibilidade suficiente para que os jovens de baixa renda possam se sustentar financeiramente, agravando ainda mais a exclusão.
Essas barreiras invisíveis perpetuam uma estrutura de privilégio que, ironicamente, organizações internacionais deveriam combater. A concentração de oportunidades nas mãos de quem pode trabalhar sem remuneração cria um campo de jogo desigual. Jovens de contextos menos favorecidos, que já enfrentam desafios no acesso à educação e oportunidades, encontram-se em clara desvantagem ao competir por posições globais.
É urgente que essas organizações internacionais reconheçam sua responsabilidade em promover o acesso inclusivo. Não basta dizer que a experiência adquirida compensa a falta de pagamento. Precisamos de soluções que permitam que jovens de diferentes origens possam competir em igualdade de condições. A criação de programas de bolsas, o financiamento de despesas básicas ou até a implementação de remuneração mínima para estagiários são medidas que podem nivelar o campo de jogo.
Se o objetivo é construir um futuro global mais equitativo, devemos garantir que as portas das organizações internacionais estejam abertas para todos, e não apenas para aqueles que podem se dar ao luxo de trabalhar sem remuneração.
Gabrielle Hayashi Santos é consultora em educação internacional e internacionalização de carreiras.
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