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EUA x TikTok: censura ou segurança nacional?

Xi Jinping e Donald Trump: China sinaliza que comprará mais soja dos EUA, principal concorrente do Brasil no setor
Xi Jinping e Donald Trump: EUA enfrentam impasse com a China sobre o Tiktok (Foto: Paolo Aguilar/Mohammed Badra/EFE)

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O banimento do TikTok nos Estados Unidos é mais do que uma briga entre um governo e uma rede social. É mais um capítulo da nova Guerra Fria tecnológica, onde tanques foram substituídos por algoritmos e mísseis deram lugar a notificações push. Em abril de 2024, o Congresso americano aprovou uma lei exigindo que a ByteDance, empresa chinesa dona do TikTok, vendesse a plataforma para uma companhia não chinesa — sob pena de proibição total no país. A justificativa? Segurança nacional, espionagem e manipulação da opinião pública. Nada mais patriótico do que salvar a democracia deletando dancinhas.

A decisão reacendeu um debate incômodo: estaria o governo dos EUA rasgando a Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão, ou apenas se protegendo do seu principal rival? Afinal, liberdade é você poder escolher qualquer app — desde que o governo o aprove primeiro?

Segundo as autoridades americanas, o TikTok coleta dados sensíveis — localização, hábitos de consumo, preferências políticas — e poderia entregá-los ao governo em Pequim. Além disso, o algoritmo seria capaz de moldar narrativas, promovendo conteúdos alinhados a interesses estrangeiros. Em tempos de polarização, isso soa como uma arma de destruição em massa. Por outro lado, críticos lembram que não há provas concretas de espionagem. Mas quem precisa de provas quando se tem medo? A medida abre um precedente: o governo pode decidir quais plataformas são “seguras” o suficiente para o cidadão.

O caso do TikTok não é isolado. As big techs, com seus algoritmos sem transparência, já são acusadas há mais de uma década de criar bolhas e radicalizar sociedades. Na Europa, a relação com as grandes redes é um caso clássico de amor e desconfiança. Bruxelas vive em cruzada para domar esses gigantes, impondo regras que prometem transparência algorítmica e responsabilização por conteúdos nocivos. Tudo, claro, em nome da segurança.

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No fundo, o banimento do TikTok é só mais um episódio da Guerra Fria 2.0: um conflito silencioso entre Estados Unidos e China, travado não por tanques, mas por chips, redes sociais e inteligência artificial. A China, por sua vez, também bloqueia Google, Facebook e Instagram, alegando os mesmos motivos de segurança contra espionagem e manipulação de informações. Resultado: um mundo digital onde cada império ergue seu próprio muro virtual.

Como equilibrar segurança nacional e liberdade de expressão em um planeta governado por algoritmos? Proteger dados é legítimo, mas censurar plataformas sem provas concretas pode abrir a porta para abusos. A guerra da informação já começou — e, nela, o cidadão comum é tanto alvo quanto soldado. Entender os mecanismos por trás das redes sociais não é luxo, é sobrevivência.

Maurício F. Bento é graduado e mestre em Economia e presidente do IFL Brasília.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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