Os anos de 2020 e 2021 deixaram sua marca na história: a pandemia. Os dados nos dizem que no Brasil foram 37 milhões de casos, dos quais 701 mil morreram e cerca de 36 milhões se recuperaram. Sabe-se que, em 2020, o país bateu o recorde de óbitos, fato que se repetiu em 2021. Sim, o quadro não foi nada estimulante.
Um dos piores efeitos da pandemia foi o choque negativo na formação dos alunos de todos os níveis escolares. Do ensino básico até o universitário, o período de pandemia trouxe problemas novos ou novas roupagens para os antigos. Segundo dados do Oxford Covid-19 Government Response Tracker com base em decretos de governos estaduais brasileiros de 2020, as escolas ficaram fechadas, em média, em 80.4% dos dias letivos. O estado do Acre teve o menor período de fechamento (25.7% dos dias), enquanto o estado do Piauí o maior (97.9%). Outros estados também deixaram escolas fechadas: São Paulo (82.7%), Rio de Janeiro (78.7%), Minas Gerais (77.3%), Paraná (95.7%). Vale notar que, no restante do período letivo, governos recomendaram fechamento ou ainda as escolas ficaram abertas com restrições para funcionamento.
Qual foi o resultado de fechar escolas? Segundo um estudo do Banco Mundial, estudantes de países de renda média ou baixa podem ter perdido até 10% de seus ganhos anuais futuros.
Desde o estresse de pais e professores, pegos de surpresa pelo ensino a distância, até a falta de avaliações eficazes de aprendizado e o isolamento social das crianças, muitas foram as barreiras para a continuidade do ensino e é claro que algum aprendizado – por pior que seja – é melhor do que nenhum.
O aprendizado, para nós, é composto de duas partes. A educação cabe aos pais e o ensino à escola. Quanto aos pais, quem não se lembra do caos causado pela súbita transferência do espaço de trabalho para o lar (10% do contingente de trabalhadores, na fase aguda da pandemia)? A infraestrutura doméstica não era (e não é) um substituto perfeito aos escritórios e crianças e adolescentes proibidos de saírem de casa são condições para uma “tempestade perfeita”.
Em relação às escolas, foi no início da pandemia que vimos boa parte das instituições de ensino privadas (e algumas públicas) empreenderem no sentido de não deixar os alunos sem algum ensino. Afinal, uma escola fechada traz prejuízos pessoais e também sociais. A agilidade na implantação de protótipos de ensino à distância não foi um sucesso completo embora, repito, algum ensino seja melhor do que nenhum.
É nítido que as condições para o bom funcionamento do ensino estavam bem longe do ideal e exigiam que pais e estudantes fizessem sacrifícios adicionais. Os primeiros deveriam evitar o baixo desempenho dos segundos e estes, obviamente, tinham que manter o comprometimento com seu aprendizado que tinham antes do lockdown. Por fim, tivemos os professores obrigados a se adaptarem a aulas e avaliações no estilo do “novo normal”. Aliás, nosso agradecimento pessoal aos pais e professores que entenderam isso e se sacrificaram para que os filhos não perdessem o ritmo.
Qual foi o resultado de fechar escolas? Segundo um estudo do Banco Mundial, estudantes de países de renda média ou baixa podem ter perdido até 10% de seus ganhos anuais futuros. Para os países da OCDE, outro estudo apontou perda de produtividade de 2.1% para os dois anos da pandemia. O pior é que a alfabetização e a habilidade de leitura das crianças brasileiras não avançou: o Brasil está entre os últimos colocados no exame PIRLS (sigla em inglês para "Estudo Internacional de Progresso em Leitura"). Estamos no grupo de 13 dos 57 países que estão abaixo da média no exame, conforme visto nesta Gazeta, recentemente.
Além disso, como tem sido a volta ao ensino presencial? Professores têm relatado dois grandes problemas. O primeiro é o de que vários alunos comportam-se em sala como se estivessem em casa. Embora não ‘fechem a câmera’, assistem às aulas com seus computadores conectados em jogos de futebol, por exemplo. É um comportamento que, ironicamente, reflete uma das queixas mais frequentes dos pais durante o trabalho remoto: não conseguir distinguir o ambiente doméstico do profissional. Agora são os filhos que, na escola, pensam que estão em casa.
Em segundo lugar, há os alunos que justificam sua falta de empenho atual como o resultado de um suposto efeito permanente da precariedade do ensino adquirido na pandemia o que, no fundo, só mostra que ele errou ao não levar a sério o tempo de estudo durante o isolamento social. A solução é simples: deve-se estudar mais para recuperar o tempo perdido. O bom e ‘velho normal’. Não existem milagres. A experiência da pandemia foi similar, em vários aspectos, ao de uma guerra e, agora, é preciso acelerar. Não fazer isto é uma opção? É. Só que custa, pelo menos, 10% de ganhos anuais futuros dos atuais estudantes.
Claudio Shikida é professor do Ibmec-BH; Ari Araujo Jr. é coordenador do curso de Ciências Econômicas do Ibmec-BH.
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