Dois fatos são como água límpida em relação ao futuro do suprimento energético no planeta: a inexorável progressão da demanda de energia que o desenvolvimento exige e a urgente necessidade de substituição da matriz energética mundial, baseada em combustíveis fósseis. Neste sentido, o estado do Paraná se posiciona como um ator necessário e capaz de auxiliar de maneira robusta no processo de transição energética, que conta com diversos esforços internacionais.
O mercado global de geração de hidrogênio girou US$ 117 bilhões em 2021, para uma demanda mundial de mais de 95 milhões de toneladas. A tendência é de que, até 2050, 18% do H2 seja renovável – e que até 2050 mais de US$ 500 bilhões serão investidos nessa energia limpa. No Paraná, a produção do hidrogênio renovável agora é vista como uma política de Estado. A maior parte da matriz energética paranaense já é composta por fontes renováveis: 97% da geração feita no estado em 2022, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, provêm de fonte hidráulica. Essa riqueza natural disponível, quando usada em uma das formas de se catalisar a molécula da água (H2O), como na eletrólise que gera o hidrogênio (H2) de forma limpa, é uma das formas de sustentar a denominação dessa energia produzida como sendo renovável.
A política estadual de hidrogênio verde está no nosso plano estratégico de grandes projetos estruturais, com foco no médio e longo prazo.
O H2 já é usado na Europa para alimentar maquinários pesados, indústrias e aviões e está no centro da modernização e inovação da produção sustentável de energia, que tem um foco robusto na descarbonização, processo que visa reduzir a emissão de carbono na atmosfera. Além do processo de produção por energia elétrica proveniente de fonte hidráulica, o Paraná pesquisa o uso do biogás produzido por dejetos animais e resíduos agroindustriais para fazer a transformação do metano (CH4) no hidrogênio renovável, um processo diferente da eletrólise.
As agroindústrias e cadeias produtivas de suínos, frango e leite são as mais promissoras e as que serão mais beneficiadas nesse processo, por produzirem dejetos e resíduos em grande volume e que, além de gerarem energia, como muitas fazem hoje, poderão gerar o hidrogênio. Segundo a ABiogás, o potencial de biogás do estado do Paraná por fonte seria de 1,1 bilhão de Nm3/ano no setor sucroenergético e de 1 bilhão de Nm3/ano na produção agrícola e de 1,6 bilhão de Nm3/ano de proteína animal. Todo esse potencial, se aproveitado para produção ou de energia elétrica, ou de combustíveis, promoveria um potencial de geração de 15.147 GWh/ano e de substituição de 3,6 bilhões de litros de diesel por biometano.
Soma-se às pesquisas nessas duas áreas o estudo sobre o uso de resíduos das subestações de tratamento de esgoto da companhia de saneamento com esse objetivo, cujo H2 resultante pode, por sua vez, vir a gerar a amônia verde, da qual se deriva a ureia verde, um biofertilizante renovável, que pode representar uma revolução nos campos paranaenses. O estado vem organizando a integração de todos os atores envolvidos em ações nesse processo, hoje isoladas e em nível local, criando um hub do hidrogênio verde. São ações da Copel, Sanepar, Invest Paraná, Parque Tecnológico de Itaipu (PTI) e do setor privado.
Em processo embrionário, a produção do H2 renovável exige, e agora tem no Paraná, amparo jurídico para que a cadeia produtiva se desenvolva: no começo de maio, no 1º Fórum do Hidrogênio Renovável, foi sancionada a Lei 11.410/23, que cria a Política Estadual do Hidrogênio Renovável. Junto a isso foram anunciadas a criação do Programa de Energia Verde; a desoneração tributária da cadeia produtiva do insumo; linhas de crédito que somam R$ 500 milhões para fomentar investimentos no setor, e assinada a resolução que cria o Descomplica H2R, que estabelece critérios para licenciamento ambiental do combustível.
A ideia é estruturar o estado para que, em um futuro breve, ele possa ter vantagem competitiva sobre outros territórios, produzindo energia sustentável, verde e barata, juntamente com pesquisadores e empresas interessados nessa nova tendência mundial. A política estadual de hidrogênio verde está no nosso plano estratégico de grandes projetos estruturais, com foco no médio e longo prazo. E nós temos papel de induzir e criar o ambiente atrativo e juridicamente seguro para que floresçam bons projetos na área.
Guto Silva é secretário de Estado do Planejamento no Paraná.
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