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A obesidade é hoje um dos maiores desafios de saúde no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 650 milhões de pessoas no mundo vivem com excesso de gordura corporal, e 1 a cada 3 brasileiros sofre com obesidade. Mais do que uma questão estética, a obesidade está associada a doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, apneia do sono e problemas osteomusculares, reduzindo tanto a expectativa quanto a qualidade de vida. Além disso, seu caráter multifatorial – envolvendo genética, alimentação, rotina e saúde mental – torna seu enfrentamento complexo e exige atenção desde cedo.
O impacto econômico da obesidade também é expressivo. Operadoras de saúde enfrentam custos crescentes com internações, exames e tratamentos contínuos de pacientes obesos. Segundo estudos do IESS (Instituto de Estudos da Saúde Suplementar), 40% de todos os custos assistenciais da saúde suplementar são atribuídos à obesidade. Esse ciclo de gastos evidencia que prevenir é muito mais eficiente do que tratar complicações avançadas. Intervenções integradas e multidisciplinares não apenas reduzem a necessidade de procedimentos invasivos, mas também melhoram de forma consistente a saúde e a qualidade de vida dos pacientes, transformando o cuidado em investimento sustentável.
A obesidade é um problema de saúde pública que exige respostas multidisciplinares, baseadas em ciência e centradas nas pessoas. Os avanços recentes indicam que programas estruturados, preventivos e personalizados podem transformar o cuidado e gerar impactos reais na vida dos brasileiros
Dados recentes indicam avanços significativos. Programas clínicos e iniciativas preventivas têm apresentado perda de peso consistente, melhora de comorbidades como hipertensão e diabetes, redução da necessidade de cirurgias e diminuição de custos assistenciais. Esses resultados reforçam a importância de estratégias estruturadas e contínuas, capazes de impactar tanto o indivíduo quanto os sistemas de saúde, mostrando que a obesidade pode ser enfrentada de maneira eficiente e duradoura.
Um exemplo prático foi o primeiro encontro do Clube Combate Obesidade Brasil, realizado em Curitiba, na primeira quinzena de outubro. O evento reuniu gestores de operadoras de saúde de diferentes estados para discutir prevenção, inovação e resultados clínicos no enfrentamento da obesidade, reunindo 108 operadoras e 216 participantes. A iniciativa evidenciou o valor de ações preventivas, escaláveis e baseadas em evidências, mostrando que programas estruturados podem gerar resultados consistentes em diferentes regiões do país.
Quando o André Nassif e eu idealizamos o SlimPass, partimos de uma inquietação que nos acompanhava há anos: por que o tratamento da obesidade ainda é, tantas vezes, reduzido à cirurgia? Acreditamos que o cuidado precisa ir além – envolver o corpo, a mente e o comportamento. Foi assim que estruturamos um programa multidisciplinar integrado, que olha para cada pessoa de forma individual. Com o tempo, os resultados vieram e confirmaram o que imaginávamos: uma redução média de 35% nas indicações de cirurgia bariátrica, mais de 7 toneladas de peso perdidas e uma economia superior a R$ 8 milhões em custos assistenciais. Esses números não são apenas estatísticas – são a prova de que o tratamento clínico de pacientes obesos é um grande investimento para operadoras de saúde, com ROI relevante.
A educação em saúde é outro ponto essencial. Quanto mais o paciente compreende seu corpo, seus hábitos e os efeitos da obesidade, mais engajado se torna em mudanças duradouras. A integração de acompanhamento nutricional, psicológico e médico, inclusive por meios digitais, permite escalabilidade e acesso, mesmo em regiões com menor disponibilidade de cuidados presenciais.
A obesidade é, portanto, um problema de saúde pública que exige respostas multidisciplinares, baseadas em ciência e centradas nas pessoas. Os avanços recentes indicam que programas estruturados, preventivos e personalizados podem transformar o cuidado e gerar impactos reais na vida dos brasileiros. Minha experiência clínica e a participação em iniciativas como o SlimPass mostram que, com dedicação e estratégias inteligentes, é possível reduzir riscos, melhorar a qualidade de vida e criar soluções sustentáveis para a saúde do país.
Igor Castor, médico e cirurgião, é cirurgião titular do Serviço de Emergências Cirúrgicas do Pilar Hospital, chefe do Serviço de Emergências Cirúrgicas Ginecológicas.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



