A semana passada foi um completo desastre para o mercado financeiro. Enquanto as bolsas ao redor do mundo mostraram recuperações, por aqui após as eleições, a situação foi bem diferente: bolsa caindo, juros futuros disparando e dólar subindo. Resumidamente, isso é o mercado deixando claro que pagaremos, sim, a conta da gastança desenfreada do Estado – e pagaremos com inflação.
Contudo, o que eu sinto nesse momento é uma desconfiança não só a respeito da direção que o governo eleito está tomando, mas acerca dos motivos da condução estar acontecendo dessa forma. Qualquer pessoa com o mínimo de noção sabe que nenhum dos movimentos recentes iriam agradar economistas sérios e investidores internacionais.
E por isso me vem à cabeça: e se todo esse caos for premeditado?
Quando você vai a um jogo de futebol do seu time e um gol é marcado a seu favor, não importa o jogador que marcou o gol, o que importa é que seu time ganhe. Pois bem, na política a história é bem diferente. Vira e mexe, um político muda o nome de um programa social ou projeto para fazer associar da sua imagem a do programa. O Bolsa Família é um ótimo exemplo disso: surgiu como Bolsa Escola no governo FHC, foi adaptado e ampliado com o nome Bolsa Família no Lula e por fim Auxílio Brasil no governo Bolsonaro.
Quando a criança é bonita e dá muito voto, todo mundo quer ser o pai. Na política, a briga para marcar o gol é muito maior do que a briga pela vitória. Pensando nisso, não me parece ser muito conspiratório cogitar que todo o caos que estamos passando seja calculado.
Veja, o novo governo Lula em uma série de indicações para a transição de governo passa a ser muito criticado por diversos setores da sociedade, o que naturalmente reflete na confiança das pessoas acerca da responsabilidade do futuro governo e por fim, impacta diretamente na bolsa de valores, curva de juros futuros e no câmbio.
Com as indicações e suas supostas consolidações em forma de ministérios, o caos está instaurado. É a receita do que já deu errado (sem nem sequer mudar os cozinheiros). Com isso, ainda na vigência do governo do opositor, Lula vê a bolsa despencando e dólar subindo. E em meio ao caos, qualquer andorinha vira águia. Qualquer nome não tão catastrófico para os ministérios já é visto com olhos mais benevolentes – fruto é obvio, do alívio de não ser alguém pior.
A partir disso, os mercados respondem positivamente aos nomes ruins, mas nem tão ruins quanto poderiam ser. Essa narrativa é apropriada para Lula, que passa a se orgulhar de ter “domado o mercado” e sanado a imaginária crise que se sucedeu no fim do governo opositor. Em uma tacada, Lula vira moderado devido às indicações, ganha posse da falsa narrativa que pegou o país em crise, tratando de resolver o problema e diz que voltou para salvar o país.
Realmente, não sei se isso é o que de fato está acontecendo, mas independente dos motivos, o rumo apontado pelo futuro governo está, com razão, assustando muitos brasileiros que enxergam bem na sua frente a receita do fracasso sendo repetida de forma ainda mais catalisada.
E entre falas e possíveis indicações de Lula para ministérios, nomes que antes ainda eram cotados e davam um pouco de esperança entorno da responsabilidade fiscal do futuro governo, como, por exemplo, o de Henrique Meirelles e de Armínio Fraga, aos poucos vão abandonando o barco. Isso mostra que o futuro governo pode até indicar nomes menos infelizes que o do desastroso Fernando Haddad para a economia, mas definitivamente o que nos aguarda não é animador. Lembre-se que não indicar um nome terrível não significa que o verdadeiro futuro ministro será bom.
Em tempo, das duas formas esse governo que já tinha tudo para ser desastroso, vai confirmando na prática as expectativas já que se os nomes circulados se concretizarem em forma de cargos, estaremos em péssimas mãos e por outro lado, mesmo que tudo seja um "blefe", é inaceitável querer utilizar o futuro do país para alcançar objetivos pessoais, mas infelizmente já estamos acostumados com essa receita tão fracassada.
Gustavo Hermont é escritor, especialista em investimentos pela ANBIMA e formado em administração de empresas. É criador do canal Investidor Sem Grife e autor do livro "Fundamentalmente: Lições indispensáveis para Investidores de sucesso" (Alta Books).
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