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Celso Amorim
Celso Amorim não vê necessidade para Lula pedir desculpas a Israel, e que reação aos ataques do Hamas indica “genocídio”.| Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Quando o presidente Lula faz uma comparação do que Israel está fazendo com a mesma ação dos nazistas contra os judeus, obviamente, ele visa a ofensa, quer chocar, produz falas que nem os inimigos mais odiosos de Israel ousam fazer. O Irã nunca falou isso, o próprio Hamas não o fez. Ele está atacando os seis milhões de judeus, e outras minorias que foram mortas durante o regime nazista. E também atribui à vítima o papel de algoz.

Porém, no caso dos judeus, isso pesa tremendamente. É um povo que foi assassinado em massa, no período da Segunda Guerra, em todos os territórios que a Alemanha de Hitler conquistou e comandou. Essa colocação ofende demais essa comunidade, e não pode ser comparada com o período onde ela mais sofreu, quando uma população civil foi escolhida para ser morta industrialmente pelo Estado nazista, onde quer que estivesse. Diga-se de passagem, não só os judeus, mas também os negros, toda a população LGBTQ, todas as pessoas deficientes e de outras minorias. Isso, que foi atribuído pelas falas de Lula, é o pior crime da humanidade, por ter sido uma decisão voluntária de extinguir uma etnia inteira da face da Terra.

Claramente, o que Israel está fazendo não tem nada a ver com o holocausto, juridicamente falando, visto que não existem campos de concentração em Gaza, não existem câmaras de gás, nunca existiu um pronunciamento do Estado dizendo que queria aniquilar o povo palestino. Muito pelo contrário, Israel e a grande maioria de sua populaçã lamenta o que está acontecendo. Entretanto, não pode haver um grupo terrorista dizendo que vai atacar outras vezes, como aconteceu no famigerado dia sete de outubro, e afirmando que vai repetir aquelas ações.

É nítido que você precisa combater um inimigo como esse. Infelizmente, a população da Palestina está pagando o preço da luta contra o terrorismo, mas ninguém em sã consciência gosta disso, nenhuma pessoa minimamente humana quer ver mortes de civis absolutamente desnecessárias. Não dá para suportar assistir tudo isso, mas, mesmo assim, as situações comparadas são incomparáveis.

Agora, quando o Lula faz isso, está querendo chamar a atenção. Ele conclama o velho antissemitismo e usa, de forma nojenta e horrorosa, essa velha estratégia para tentar obter ganhos políticos, como ele gosta de fazer. Então, pega o pior daquilo que pode existir de odioso, de racista, de antissemita, de preconceituoso, para ganhar foros políticos na medida em que ninguém está feliz com o que está acontecendo em Gaza, seja judeu, não judeu, palestino ou qualquer outra pessoa.

Como disse, ninguém gosta de ver uma guerra sangrenta, mas infelizmente ela se faz necessária. Não dá para comparar pratinho de azeitona com pires de oliveira. São coisas completamente diferentes e o presidente sabe disso. Ele quer é se aproveitar da forma mais nefasta de preconceito, que graceja nas populações e na esquerda antiamericana, que só quer ser anti-Israel pela parceria entre os países.

Lula, ao tecer esses comentários, faz isso querendo ter muito mais atenção para as pautas internacionais do que para as nacionais, onde não está resolvendo nada. A fuga da prisão federal de Mossoró, onde um preso custa R$38 mil, contra R$2 mil nas cadeias estaduais. Toda essa situação fiscal, a dívida pública, o que está acontecendo com os índios, todas as enchentes em que não está sendo feita coisa alguma e inúmeras outras situações. Nada melhor do que arrumar um problema externo também para não estar preocupado com o problema interno e então conclamar suas bases. É isso o que Lula está fazendo: trazendo o antissemitismo para o Brasil, polarizando o país e sendo extremamente ofensivo à população judaica brasileira – com a qual não se importa.

Nilton Serson é advogado.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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