Infelizmente, o Rio Grande do Sul passa pela maior catástrofe humanitária de sua história. E serão necessárias doações para a população do RS. Como consequência de um desastre climático e falhas na gestão de desastres, temos visto, desde o início de maio, imagens na tv e redes sociais que se assemelham a uma guerra: morte, crianças separadas dos pais, idosos desesperados, pessoas que perderam tudo – literalmente tudo – saindo de suas casas inundadas, apenas com a roupa do corpo e um vazio no coração. Questionando-se: o que será do futuro?
Neste cenário desolador e que deveria comover a todos, muitas dúvidas têm surgido no sentido do que doar e como fazer as doações para o RS. Visando trazer este esclarecimento e combater as falsas informações que têm circulado pelas redes sociais e grupos de WhatsApp, eu, como assistente social e cidadã, preparei algumas dicas para auxiliar neste sentido.
O que doar? Neste primeiro momento, de pura emergência, doar aquilo que é essencial para se viver em 24h: a) roupas – de todos os tamanhos e estações; b) mantas, edredons , cobertores e toalhas de banho; c) colchões e travesseiros (de preferência infláveis por serem de fácil transporte, leves e impermeáveis); d) água mineral (galão e garrafa pet); e) alimento não-perecível: as cestas básicas são necessárias e bem-vindas, porém agora são muito importantes os alimentos de consumo imediato e que não necessitam de refrigeração por que em muitos locais está faltando gás, energia e água, inviabilizando a preparação. A minha sugestão são alimentos como: enlatados prontos (feijoada, almôndegas, salsichas), macarrão instantâneo, bolachas salgadas e doces; barras de cereais; f) ração para cães e gatos; g) itens de higiene pessoal e limpeza pesada: sabonetes, pasta e escova de dentes, absorventes, fraldas, lenços umedecidos, detergentes, desinfetantes, etc ; h) dinheiro: a doação em materiais é ótima, mas em dinheiro além de ser possível a compra e pagamento daquilo que for necessário, é importante porque fomenta a economia local, ajudando a reerguer financeiramente pequenos comerciantes e produtores que também foram atingidos pela catástrofe, além de economizar no transporte dos materiais. Fica a dica: caso esteja indo socorrer afetos seus, compre no caminho.
Onde fazer doações para o RS? Correios, corpo de bombeiros, ONGs e movimentos sociais de alcance e experiência nacional como Cáritas, CUFA e MST, entre outros, são os mais indicados por terem experiência, passar por auditorias constantes e a responsabilidade fiscal. Ao realizar doações via pix, dê preferência para conta ou pix que sejam CNPJ. Caso doe para pessoa física, é importante conhecer a pessoa, sua idoneidade e trabalho. Se possível solicitar um recibo de doação (quando material) e guardar o comprovante do pix ou transferência realizada.
É cobrada a nota fiscal de doação? Depende. Nenhuma doação de bens de consumo não-duráveis (alimentos, itens de higiene e limpeza, ração animal) e usados (roupas, calçados, utensílios) exige nota fiscal. Isso além de mentiroso, chega a ser fantasioso. Bens de consumo duráveis, principalmente novos e/ou tecnológicos - como celulares, tvs e computadores - é interessante que sejam doados com a nota fiscal, para segurança dos doadores e dos beneficiários. Bens materiais de propriedade, como casas e carros, esses sim precisam apresentar todas as documentações e transferências, obrigatoriamente.
No momento da logística e transporte dos produtos, fiscalizações podem ser feitas no sentido das condições do veículo (físicas, documentais etc.), limite e tipo de carga, e condições trabalhistas das pessoas que fazem esse transporte (motoristas, carregadores). Voluntários não estão submissos às normas trabalhistas, mas a organização que representam deve garantir as condições mínimas humanas para segurança e o exercício de sua atividade local ou em trânsito: equipamentos de proteção individual (EPI), uniformes, crachá de identificação, alimentação e água, além de ser interessante para ambos a assinatura de um termo de voluntariado com base na Lei 9.608/1998.
No mais, é importantíssima essa rede de solidariedade que tem se formado em todo o país. Estamos salvando vidas! Todos podemos, de alguma forma, ajudar: cada um fazendo dentro da sua possibilidade e capacidade já é muito. Não divulgar informações às quais não temos certeza, também é cidadania e humanidade. Aos irmãos gaúchos desejo que este pesadelo acabe logo e que mantenham a força e a esperança.
Relly Amaral Ribeiro, assistente social, mestre em Serviço Social e Política Social, é professora e tutora dos cursos de pós-graduação em Serviço Social da Uninter.
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