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inflação
Imagem ilustrativa.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

Alimentar-se melhor é uma preocupação crescente dos brasileiros. Oito em cada 10 entrevistados do estudo A Mesa dos Brasileiros, o mais recente sobre o tema conduzido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2018, afirmaram se esforçar para manter uma alimentação saudável. Ainda, 71% apontaram preferir produtos mais saudáveis, mesmo que precisem pagar mais caro por isso.

Já 50% dos respondentes da pesquisa O futuro do Food Service, realizada pela Fispal Food Service em parceria com a FGV Jr, divulgada no fim de 2021, passaram a cozinhar em casa durante as medidas de isolamento social e mais de 40% disseram que vão manter o hábito mesmo quando a crise sanitária for completamente superada. Ainda, 33,4% dos respondentes concordaram totalmente com a afirmação de que passaram a se preocupar mais com a alimentação durante a pandemia do novo coronavírus e buscaram incluir mais itens saudáveis nas refeições.

O futuro que vislumbro para o segmento de orgânicos é brilhante, mas ainda há um longo caminho a percorrer, inclusive com mais legislações e apoio do Poder Público.

Nesse cenário, o segmento de orgânicos, cuja produção tem como principal característica a não utilização de agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas que agridam o meio ambiente, é beneficiado no país, representando uma grande oportunidade para o setor alimentício. Em 2020, o segmento movimentou R$ 5,8 bilhões no Brasil e registrou uma alta de 30% nas vendas em comparação com o ano anterior, segundo levantamento da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), com avanço significativo no consumo desses produtos para as cidades do interior.

Os brasileiros têm se mostrado cada vez mais propensos ao consumo de orgânicos, como demonstra outra pesquisa da própria Organis, Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021: na época da realização do estudo, 31% dos entrevistados afirmaram ter consumido orgânicos nos últimos 30 dias, 12 pontos percentuais a mais que o registrado em 2019 (19%) e 16 pontos acima do que se teve em 2017 (15%). 34% dos participantes disseram consumir orgânicos ao menos duas vezes na semana e 71% indicaram estar dispostos ou muito dispostos a aumentar o consumo – em 2019, eram 67%.

O número de produtores também tem crescido ano a ano. Em 2010, havia cerca de 5,4 mil unidades de produção registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Já em 2021, o número saltou para 26,6 mil, crescimento de quase 400% em 11 anos. De acordo com o Mapa, esse aumento pode ser atribuído à demanda gradativa por alimentos orgânicos pelos consumidores, com hábitos cada vez mais sustentáveis, e ao apoio aos sistemas orgânicos de produção, que promovem respeito ao meio ambiente, comércio justo e melhor qualidade de vida aos brasileiros que tiram seu sustento do campo.

Na Vapza, começamos a implementar nossa linha de orgânicos, que hoje conta com nove produtos, em 2014, depois de muita pesquisa e de constatar que essa era uma tendência crescente em todo o mundo. Um exemplo que sempre gosto de citar é o do Whole Foods Market, rede varejista norte-americana focada na venda de produtos livres de gorduras hidrogenadas e corantes, aromatizantes e conservantes artificiais, que em 2017 foi adquirida por US$ 13,7 bilhões pela Amazon, uma companhia sem tradição no segmento de alimentos mas que estava ligada nos novos hábitos de consumo.

Uma grande dificuldade que enfrentamos, entretanto, foi em relação ao fornecimento dos ingredientes. Havia poucos produtores e, por influência de fatores externos, como o clima, muitos não davam conta de entregar o que havíamos combinado. Em 2015, portanto, demos uma pausa em nossa linha e em 2016 voltamos com força total, de forma estruturada. Compreendemos a antecedência necessária para combinar as entregas e a exigência de se ter quatro ou cinco fornecedores, ao menos, para cada produto.

Não significa, porém, que tudo são flores. Há vários itens que gostaríamos de migrar para a linha de orgânicos, como batata, beterraba e cenoura, mas não encontramos fornecedores suficientes. Já em relação às carnes vermelhas, o valor ainda é muito alto – o valor alto, inclusive, é considerado o principal empecilho para o consumo de orgânicos no Brasil, segundo 67% dos respondentes do levantamento Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021.

O futuro que vislumbro para o segmento de orgânicos é brilhante, mas ainda há um longo caminho a percorrer, inclusive com mais legislações e apoio do Poder Público. Os alimentos orgânicos são mais saborosos, saudáveis e contribuem para um mundo mais sustentável. Não há motivos para não apostar neles.

Enrico Milani é CEO da Vapza.

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