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Turquia oferece auxílio econômico em regiões afetadas por terremotos
Homem caminha por ruas cercadas de edifícios desabados em Hatay, na Turquia| Foto: EFE/EPA/ERDEM SAHIN

Em janeiro deste ano pedi desligamento do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, por onde atuei por 18 anos. Essa foi a decisão mais difícil que já tomei. Quando eu era adolescente, não queria ser bombeiro. Pensava em ser médico, como meus pais. Não escolhi essa profissão. Foi ela que mês escolheu. Com o tempo a gente entende qual nossa missão a ser cumprida. Junto aos homens e mulheres que estiveram ao meu lado em muitas operações e na rotina complexa, ainda mais em um batalhão especializado em emergências e desastres ambientais, descobri que meu propósito sempre foi salvar vidas, mas no lugar do jaleco branco, usaria outro tipo de farda. No lugar do hospital, o trabalho seria na rua, na enchente, no alto de um prédio, num mar de lama e até em um país destruído por um terremoto.

Mas foi a decisão mais difícil da minha vida que me permitiu embarcar imediatamente para a Turquia, logo após a HUMUS, ONG que havia acabado de fundar, após receber um alerta da ONU que solicitava equipes internacionais especializadas em resgate, a fim de ajudar nas buscas e salvamentos após um terremoto de magnitude 7,8 pontos, que posteriormente seria registrado como uma das maiores tragédias causadas por um evento natural extremo dos últimos 100 anos.

Como toda a missão nos deixa uma lição, na Turquia aprendi que ainda há esperança.

A HUMUS surgiu do entendimento que o tempo é o principal inimigo das equipes de resgate. Cada segundo realmente importa. Sou engenheiro geotécnico, especializado em gestão de desastres no Brasil, Chile, Japão, pela UNESCO e em redução de riscos pela ONU. Já participei de diferentes ocorrências como bombeiro militar, comandando equipes de busca em operações muito complexas, como em Mariana e Brumadinho.

Eventos naturais extremos, como tempestades, ciclones, incêndios florestais, são cada vez mais frequentes e intensos. Já não basta apenas culpar a chuva ou o sol. Precisamos estar mais preparados para agir, para responder rapidamente, principalmente comunidades que estão em áreas de risco iminente, inclusive de um terremoto. Foi durante uma operação em Moçambique, após a passagem de um forte ciclone que tomei a decisão de criar algo novo, uma organização sem fins lucrativos que pudesse ampliar o corpo, a mente e o espírito desses profissionais de resgate que tanto respeito.

Para a Turquia, reunimos um pequeno grupo de três voluntários especialistas em resgates e decidimos voar para o país na mesma noite que o alerta chegou, no dia 6 de fevereiro. Chegamos dois dias depois, após uma longa viagem com muitas conexões, e iniciamos as buscas pelas vítimas.

Eventos naturais extremos, como tempestades, ciclones, incêndios florestais, são cada vez mais frequentes e intensos. Já não basta apenas culpar a chuva ou o sol.

O cenário que encontramos ainda não havia sido transmitido pela imprensa, pois é impossível cobrir uma região tão extensa, incluindo a perigosa fronteira com a Síria. Ao caminhar pelas ruas destruídas nas três cidades em que ajudamos a localizar vítimas, percebi que o número de vítimas seria muito maior do que o estimado. Primeiro, porque o foco das equipes de resgate ainda era localizar pessoas com vida. Muitos corpos tiveram que ser deixados onde estavam e ainda não tinham sido contabilizados entre as vítimas fatais já anunciadas.

O terremoto não é só o grande tremor e as réplicas que acontecem depois. Há cidades que tiveram todas as estruturas abaladas. Os prédios que não caíram, não têm mais segurança para serem habitados. Isso causa impacto financeiro, pois milhões de pessoas, além de não terem mais onde morar, não têm trabalho e consequentemente, não têm dinheiro. E todas elas certamente terão de se equilibrar entre a necessidade do recomeço e a dor imensurável de perder ao menos um familiar ou alguém que conhecia.

Isso aumenta o clima de tensão. Em Hatay, região ao sul que faz fronteira com a Síria e recebe muitos refugiados, foi onde concentramos nossos esforços devido aos muitos pedidos de ajuda e também de reclamação de que poucas equipes de resgate queriam atuar ali, principalmente pelo perigo e até ameaças terroristas. Depois de 10 dias da chamada janela de sobrevivência, tempo padrão em que um ser humano consegue sobreviver após um desastre, retornamos para casa. Apesar da agilidade para tomar uma decisão importante contra o tempo, a ONG tem limites, financeiros e humanos. Mesmo tendo feito o máximo de esforço para lutar contra o tempo, chegar mais rápido e empenhar todos os meus conhecimentos nas buscas em cada sinal vida, ainda há e haverá muita dor na Turquia.

Como toda a missão nos deixa uma lição, na Turquia aprendi que ainda há esperança. Durante esses dias nossa pequena equipe foi impactada por onde gigantesca de mensagens e apoio de brasileiros que no Brasil e na Turquia acompanhavam nosso trabalho. Muitos pediam para estar lá ao nosso lado ou fazer algo que pudesse nos ajudar a encontrar aquelas pessoas. Fomos abraçados por muitos turcos e trabalhamos ao lado de especialistas do mundo todo, que também sabem a importância de praticar empatia.

Quando me perguntam o motivo de embarcar para Turquia sendo que há tantos problemas para ajudar no Brasil, respondo que: “se fosse meu filho embaixo dos escombros pediria que o mundo inteiro atravessasse um oceano para salvá-lo”. Agora, sigo em frente, sem torcer para que um novo desastre aconteça, mas quando acontecer peço a Deus que possamos estar lá no menor tempo possível.

Léo Farah, capitão da reserva dos Bombeiros de Minas Gerais, é especialista em gestão de desastres, consultor, palestrante, autor e co-fundador da HUMUS.

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