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Imagine o Paraná como um grande prédio, onde seus 399 municípios são apartamentos. Cada apartamento tem valor social e necessidades específicas. Um são menores, com menos moradores, outros são grandes e abrigam grandes famílias. A administração deste edifício deve garantir o bem-estar de todos, incluindo de áreas comuns que sejam acessíveis, sem privilégios para alguns em detrimento de outros.
Quando o “Prédio Paraná” tem um síndico que trabalha apenas pelos apartamentos mais ricos, mais valorizados, de amigos ou de interesse de amigos, o prédio começa a apresentar falhas estruturais graves, gerando desigualdade e prejudicando a todos. Consegue imaginar o tamanho do problema que, mês a mês, o síndico causaria ao prédio por não cumprir o seu papel de administrador de maneira mais planejada e ampla?
O municipalismo e a desigualdade na gestão são problemas que surgem quando tratamos alguns municípios com mais atenção do que outros, caracterizado por baixas taxas de crescimento e acentuados desequilíbrios regionais
No contexto político, enfrentamos esse problema por causa do microgerenciamento. O microgerenciamento nada mais é do que a gestão excessiva de uma pequena parte do problema, onde o todo é ignorado e não é contemplado no planejamento regional. Um exemplo claro disso é quando um deputado do Paraná faz esforços para levar ambulância para um município, mas não atua de maneira efetiva para melhorar a saúde pública de todo o estado. O resultado do microgerenciamento é um governo mais burocrático, onde recursos públicos são desperdiçados com ações paliativas, enquanto problemas graves, básicos e estruturais seguem sem solução para o desenvolvimento territorial e sua sustentabilidade do ponto de vista econômico, social, ambiental e cultural.
O papel do Legislativo, dos deputados do Paraná e de qualquer estado, não é garantir ambulância, conseguir vaga em hospital para os amigos ou buscar vaga em creche para um ou outro município. O papel do Legislativo é, antes de tudo, fiscalizar o governo. Quando parlamentares passam a intervir diretamente na administração pública, buscando resolver pequenos problemas operacionais, perdem de vista as grandes pautas que realmente promovem o desenvolvimento do estado. E é sempre importante destacar que o estado é quem tem a função de planejar e executar as políticas públicas que possibilitam ações que impactam a todos.
Gosto de lembrar que pedidos absurdos para os deputados só contribuem para a ineficiência e a corrupção. Eu já recebi pedidos para pagar aluguel de igreja, pagar cruzeiro para idosos, doar dentaduras, conseguir cadeiras de rodas e tantos outros. Se eu fosse um deputado que quer ganhar votos à base de falcatrua, teria atendido. Mas eu não fui eleito pra isso. Ninguém foi.
O municipalismo e a desigualdade na gestão são problemas que surgem quando tratamos alguns municípios com mais atenção do que outros, caracterizado por baixas taxas de crescimento e acentuados desequilíbrios regionais. No “Prédio Paraná”, isso equivaleria a um síndico que privilegia as unidades maiores e mais valorizadas, ignorando aquelas que precisam de mais manutenção e investimentos. O ciclo vicioso transforma deputados em vereadores de luxo, aprofundando desigualdades e impedindo que municípios pequenos recebam investimento adequado para se desenvolver de forma sustentável.
Um Parlamento de todos, é isso que eu quero para o Paraná e seus municípios. Quero chegar no interior e não ter mais que responder “de que região você é?”, uma pergunta que faz referência a uma prática de benefícios que deputados buscam para seus locais de maior votação. Defendo que as desigualdades dos municípios sejam tratadas de forma desigual, justamente para que todos tenham condições de superar os seus desafios.
Requião Filho é deputado estadual no Paraná.



