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Doações chegam ao Rio Grande do Sul de todos os cantos do Brasil e de países próximos.
Doações chegam ao Rio Grande do Sul de todos os cantos do Brasil e de países próximos.| Foto: Divulgação/Secretaria de Esporte e Lazer do RS

Em linha reta, a distância do Oiapoque ao Chuí é de 4.180 quilômetros, mais do que entre Lisboa e Moscou. Mas foi do Amapá que o governador Clécio Luís, a exemplo de tantos outros dirigentes estaduais, ligou para o governador Eduardo Leite para colocar os recursos de seu estado, por mais modestos que sejam, à disposição do Rio Grande do Sul. Em Brasília, doadores congestionaram por horas os acessos à base aérea para levar doações, e o terminal do aeroporto de Guararapes, em Recife, ficou lotado de mantimentos e roupas trazidos às pressas pelos irmãos nordestinos.

Helicópteros, barcos, bombeiros, policiais civis e militares de todo o Brasil acorreram ao Rio Grande do Sul tão logo se configurou a dimensão da catástrofe. Caminhões com faixas de força aos gaúchos transportam de outros estados milhares de toneladas de doações que formam uma linha vital de salvação neste momento.

Quem sabe não está nascendo no Rio Grande do Sul, como uma flor no pântano da catástrofe, um Brasil com mais cara de Brasil.

Heroicos são também esses caminhoneiros que, com devoção, têm passado dias em rodovias semidestruídas, desvios e engarrafamentos para manter o abastecimento do Rio Grande do Sul e levar as doações de todo país.

Talvez não soubéssemos que éramos uma nação profundamente solidária, ou não nos lembrássemos mais, diante da divisão entre brasileiros escavada artificialmente para eleger políticos de diferentes matizes ideológicos que tiram vantagem do ódio entre conterrâneos. Mas a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos deu uma janela para enxergar por cima dos cretinos das redes sociais que, do sofá, tripudiam dos esforços de servidores civis e militares que há duas semanas mal se alimentam e dormem para salvar vidas e tentar restabelecer um mínimo de normalidade.

Quem sabe não está nascendo no Rio Grande do Sul, como uma flor no pântano da catástrofe, um Brasil com mais cara de Brasil, onde as divergências não separavam famílias e amigos e nem catalogavam partidos como anjos ou diabos? Esse Brasil não concordava, e nem devia, concordar em tudo, mas não desejava a aniquilação daquelas partes que não pensavam como as outras. É essa chance que temos agora diante de nós, por obra de voluntários, doadores, servidores e poderes que não distinguem crenças políticas ao estender a mão.

No telefonema ao governador gaúcho, seu colega do Amapá aproveitou para agradecer o apoio do Rio Grande do Sul a 24 amapaenses tratados no estado por problemas renais crônicos. Esse é o Brasil que estava oculto e que pode emergir das águas de maio. Basta que, ali na frente, quando os rios baixarem e o noticiário voltar ao normal, as promessas e os discursos oficiais não sejam arquivados e que, principalmente, não percamos de vista que, um dia, o Brasil se uniu para salvar o Rio Grande do Sul. Nós nunca esqueceremos.

Marcelo Rech, jornalista, é presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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