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Nas últimas semanas, percorri corredores, comissões e plenário ouvindo um sentimento que se repete entre parlamentares, especialistas em segurança e, principalmente, entre os cidadãos que cruzam comigo nas ruas: o Brasil está exausto. Exausto da ousadia das facções, da normalização do medo, do poder paralelo que se instalou em comunidades inteiras e que insiste em desafiar o Estado brasileiro.
Finalmente, na Câmara dos Deputados aprovamos o PL Antifacção, um projeto que há anos é aguardado por quem compreende a dimensão real do avanço das organizações criminosas no país. Votei a favor com convicção e com a firmeza que o momento exige. Porque, para mim, a discussão é simples e direta: facção não manda no Brasil. Aqui, quem manda é a lei.
O Brasil precisa recuperar território, autoridade e tranquilidade. Cada dia de atraso é um dia a mais de sofrimento para quem vive cercado pelo medo
Como advogada sempre defendi que o Estado não pode perder sua autoridade. E como parlamentar, sinto diariamente a responsabilidade de proteger aqueles que vivem do lado certo da lei, mas que há muito tempo vem sendo deixados à mercê de grupos que se comportam como verdadeiros Estados paralelos. São essas famílias, e não os criminosos, que devem estar no centro das decisões tomadas no Congresso Nacional.
O PL Antifacção é um avanço porque enfrenta o crime organizado naquilo que realmente os sustenta: dinheiro, território e comunicação interna. Esse projeto vai endurecer penas, fortalecer a capacidade investigativa, integrar ações de inteligência e corta o fluxo financeiro que alimenta as facções. Com isso, devolve ao Estado a força operacional e jurídica necessária para recuperar áreas dominadas há anos por grupos armados que se sofisticaram, expandiram fronteiras e se infiltraram nas rotinas mais básicas da sociedade.
A verdade é que o país normalizou o inaceitável. Normalizou escolas cercadas por barricadas, comerciantes extorquidos, famílias que silenciam para sobreviver. Normalizou crianças crescendo sob o barulho de tiros e trabalhadores reféns de decisões impostas por criminosos. Essa distorção precisa terminare o Parlamento começoua corrigi-lana noite desta terça feira.
Defendi meu voto pensando nas famílias que perderam a paz, nos trabalhadores que já não conseguem sair de casa sem saber se irão voltar, nos jovens que vivem sob a sombra de quem dita regras pela força. A eles eu devo minha posição: fico ao lado da lei, da Justiça e das pessoas de bem. Sempre!
Apesar das divergências políticas que marcam o momento atual, sei que segurança pública não é pauta de governo, é pauta de Estado. É uma agenda que exige continuidade, seriedade e coragem. Não é um terreno para intimidações, nem para hesitações institucionais. Por isso, mantive o foco em defender o PL Antifacção sem transformar o Judiciário em alvo ou instrumento do debate. O inimigo, afinal, é outro. São as facções que drenam vidas, recursos e direitos tentando dominar o nosso país.
Agora, o texto segue para o Senado. Espero que encontre ali o mesmo senso de urgência, a mesma disposição para enfrentar esse problema com a profundidade que ele exige. O Brasil precisa recuperar território, autoridade e tranquilidade. Cada dia de atraso é um dia a mais de sofrimento para quem vive cercado pelo medo.
A aprovação do PL Antifacção não encerra a luta, mas abre uma nova etapa. E eu seguirei firme nela porque acredito, honestamente, que nenhuma democracia pode prosperar onde o crime tenta se impor como poder. A Câmara enviou uma mensagem clara ao país: a lei prevalece. E a sociedade brasileira merece nada menos do que isso.
Rosângela Moro é deputada federal por São Paulo e advogada pós-graduada em Direito Tributário.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



