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O fim da reeleição de presidente, governador e prefeito. Será?

Comissão do Senado aprova PEC que acaba com reeleição e muda duração de mandatos. (Foto: Antonio Augusto/TSE)

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O projeto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do senador Jorge Kajuru (Podemos-GO), aprovado no último dia 21 de maio, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, parece um avanço. Determina:

  • A extinção da reeleição de Presidente da República, Governador de Estado e Prefeito; 
  • Aumenta a duração dos mandatos de 4 para 5 anos (exceto o de senador, que poderá ir de 8 para 10 anos); 
  • E unifica as eleições federais, estaduais e municipais, que atualmente ocorrem intercaladas a cada 2 anos, para se realizarem num só dia, com intervalos de 5 anos.  

O raciocínio básico é de que, tendo a expectativa de reeleger-se, o administrador público prioriza o trabalho pela própria recondução ao posto, deixando a governança em segundo plano. Pode, ainda, servir-se da força do governo para conquistar votos, o que configura concorrência desleal aos demais candidatos, que não possuem o controle da máquina e das finanças públicas. 

Apesar de acenar com um novo tempo, o projeto de Kajuru fixa as mudanças só a partir de 2034. Quer dizer que, mesmo extinta a reeleição, o presidente Lula e os atuais governadores em primeiro mandato poderão concorrer em 2026 e 2030 e os prefeitos em 2028 e 2032.

Desde a proclamação da República em 1889, quando foi adotado o presidencialismo como forma de governo, o Brasil desconheceu a reeleição para titulares do Poder Executivo. 

Ela só foi instituída em 1979, por ação do presidente Fernando Henrique Cardoso, que argumentou a conveniência do governo ter 8 em vez de 4 anos para realizar seu plano de obras e empreendimentos. 

FHC foi o primeiro presidente a governar por dois mandatos de 4 anos seguidos. Depois vieram Lula e Dilma Rousseff, afastada pelo impeachment no segundo período. Michel Temer, que sucedeu Dilma, tinha direito, mas desistiu de concorrer ao segundo período para poder realizar um mandato. 

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Jair Bolsonaro concorreu, mas foi vencido por Lula, que hoje cumpre seu terceiro mandato presidencial e se esforça para, no próximo ano, concorrer ao quarto período. 

A ampliação dos mandatos e a realização de todas as eleições - federais, estaduais e municipais - num só dia, conforme propõe Kajuru, é tema antigo no movimento eleitoral brasileiro. 

As eleições municipais de 1980 foram suspensas e os mandatos dos prefeitos e vereadores de então acrescidos em dois anos. Os novos prefeitos e vereadores só foram eleitos em 1982, juntamente com senadores, deputados e governadores estaduais, que naquele ano voltavam a ser eleitos pelo povo depois de por duas décadas serem eleitos indiretamente. 

Vivíamos sob o regime militar e o presidente da República continuava sendo escolhido pelo Colégio Eleitoral, grupo de notáveis nomeado para esta finalidade. O primeiro presidente eleito pelo povo foi Fernando Collor de Mello, em 1989.

Prefeitos e vereadores eleitos em 1982 receberam mandato de seis anos, o que voltou a desencontrar a data das eleições e a mantê-las a cada 2 anos, como ocorre até o presente. 

O argumento para casar todas as eleições num mesmo dia era economizar. Mas prevaleceu a vontade dos políticos, que acham ser muito extenso, principalmente para quem perde nas urnas, o intervalo de 4 ou 5 anos para aguardar entre uma eleição e outra. 

Vale considerar que, por natureza, as leis são criadas para resolver problemas imediatos, e o projeto de Kajuru não difere (ou não deveria ser). Se acabasse imediatamente com a reeleição e introduzisse de pronto as demais mudanças, seria um avanço concreto no sistema eleitoral brasileiro. 

Mas, preparado para mudar o sistema só em 9 anos, pouco ou nada adiantará, já que nesse período o país continuará convivendo com os problemas – especialmente despesas e vícios – que podem justificar a alteração legal. 

O parlamentar e seu grupo identificaram um grande problema nacional, que envolve toda a classe política e até o eleitorado de norte a sul e de leste a oeste. Mas perdem o senso de oportunidade e até a importância quando permitem que a lei velha, com todos os seus problemas, continue em prática. 

Lei boa e justa é aquela que entra em vigor imediatamente, jamais anos ou quase uma década depois de sua edição

Com a perspectiva de surtir seus efeitos só em 2034, mais a divisão de opiniões e interesses da classe política sobre os temas, não será difícil que, mesmo aprovada no Congresso e até sancionada, a PEC jamais entre em vigor. Principalmente se o autor deixar de ocupar o púlpito e a bancada de senador.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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