Chama a atenção o projeto apresentado pela prefeitura para a revitalização de uma área de dez quadras em torno do Mercado Municipal, visando transformar o local “em um grande boulevard, dando prioridade aos pedestres e aos deslocamentos não motorizados”. Também merecem aplausos as anunciadas intervenções na região da Prudente de Moraes e da Saldanha Marinho, área de grande potencial como polo para cafés, restaurantes, moda e consumo alternativos.
Toda obra que acrescenta qualidade de vida à população é realmente bem-vinda, até porque atrairá para a área novos investidores e empreendedores e, consequentemente, novos consumidores. Mas essas iniciativas abrem espaço para uma antiga reivindicação de comerciantes, proprietários, moradores e da população em geral em torno do nosso Centro da cidade.
Sem prejuízo de novas obras, o Centro não pode ser esquecido e deve ser mantido como prioridade, merecendo um naco dos recursos que serão destinados às novas intervenções. Não há recursos de sobra, mas quem sabe não possam ser racionalizados e também destinados a algumas urgências reais, como a área central.
Se há escassez de verbas, devemos pensar também em distribuir sua aplicação onde trarão benefícios ao maior número de pessoas. Colocamos essa questão a propósito dos problemas que enfrentamos no Centro. A região passa por um processo de esvaziamento e degradação, fruto da própria dinâmica das metrópoles, mas também da falta de visão dos nossos administradores sobre este processo, que não precisa ser necessariamente irreversível.
O Centro não pode ser relegado a um cenário de abandono, onde proliferam pequenas cracolândias e onde, ao anoitecer, as marquises viram dormitórios de moradores de rua abandonados à própria sorte. Calçadas irregulares, ciclistas transitando no calçadão e cometendo delitos, comércio irregular de toda ordem. Na região compreendida pelas praças Tiradentes, Santos Andrade, Carlos Gomes, Zacarias, Osório e Rui Barbosa circulam mais de 200 mil pessoas por dia. Trata-se de uma área ainda pujante, mas que necessita de urgentes intervenções que viabilizem sua recuperação e requalificação para que não perca a potencialidade econômica e social e, com certeza, sua relevância para a cidade.
Redesenhado há mais de 40 anos, com o fechamento da XV para carros e a criação do calçadão, o centro de Curitiba precisa ser repensado como um importante ponto comercial e de encontro de pessoas que deve ser. Ali está grande parte do nosso patrimônio histórico e arquitetônico, nossa verdadeira identidade cultural que não pode ser perdida – pelo contrário, deve ser resgatada para toda a população. O ganho é real e para todos os que habitam a cidade.
A recuperação de áreas degradadas fortalece o comércio e o setor de serviços, valorizando os que estão instalados e atraindo novos empreendedores. Isso significa mais e emprego e mais renda para todos. Se o Centro for esquecido, acabará virando um espaço cada vez mais vazio e abandonado em meio a áreas de efervescência cultural, social e comercial quando ali já temos toda a base para construir um espaço moderno, dinâmico, inclusivo e de enorme potencial turístico. Nossa grande marca, a Rua XV, não pode continuar se esvaziando e ser um lugar que as pessoas evitam quando o sol se põe. Deveria ser um ponto voltado ao turismo dia e noite.
É o poder público que dispõe das ferramentas capazes de conter a decadência de determinados espaços urbanos, convocando os setores vivos da sociedade a atuarem juntos pelo bem comum, levando em conta os interesses da população como um todo. Sabemos que não existe uma solução pronta para a XV e entorno, mas convidamos os especialistas do Ippuc a voltarem os olhos para a busca de soluções também para o Centro. O que falta para pensarmos o Centro como um verdadeiro shopping a céu aberto que há tanto sonhamos?
A sociedade civil organizada espera ser ouvida. Onde ela quer obras e onde quer que o dinheiro dos impostos seja investido. Se é tarefa primordial do poder público promover o bem coletivo, as suas políticas e ações devem ser discutidas com aqueles que serão alcançados por elas.
Camilo Turmina é presidente da Associação Comercial do Paraná.
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