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Durante anos, passou-se a ideia de que os Correios eram um símbolo de inclusão cultural, instrumento político e vitrine de governo. O que o Brasil assiste hoje, um rombo multibilionário que ameaça a existência da empresa, não surgiu de um erro pontual, mas de uma década de escolhas irresponsáveis, conduzidas sob Lula e Dilma, que transformaram uma das instituições mais respeitadas do país em um laboratório de aparelhamento, improviso e desperdício.
Entre 2003 e 2014, os Correios torraram R$ 770 milhões em patrocínios, editais e centros culturais, assumindo um papel para o qual nunca tiveram vocação nem estrutura. A estatal virou mecenas, não por necessidade da população, mas por ideologia política. E fez isso justamente no momento em que congelava tarifas por decisão do governo e repassava mais de R$ 6 bilhões em dividendos para reforçar o caixa da União. Era uma equação suicida – gastar mais, ganhar menos e ainda sustentar a máquina federal.
A crise dos Correios é tríplice – operacional, patrimonial e previdenciária – e levará décadas para ser corrigida. Mas o primeiro passo é admitir a raiz do problema: a estatal foi usada como se fosse infinita, imune a erros e disponível para qualquer projeto que agradasse ao governo da vez
O fundo de pensão dos funcionários dos Correios foi tratado como caixa político, aplicado em títulos de países quebrados, operações temerárias e esquemas revelados pela CPI dos Fundos de Pensão e pela Operação Greenfield. O resultado? Um rombo superior a R$ 15 bilhões, dos quais R$ 7,6 bilhões sairão diretamente do caixa dos Correios, ou seja, o trabalhador paga, a empresa sofre e os responsáveis não sofrem consequência proporcional.
Mesmo com prejuízos gigantescos em 2015 e 2016, os centros culturais abriram as portas como se vivêssemos em tempos de fartura. Era a política dizendo ao país que “tudo vai bem” enquanto os números gritavam o contrário. A cultura crescia, o Postalis derretia e o serviço postal, que deveria ser o foco, se deteriorava.
Entre 2017 e 2021, a suspensão dos editais e medidas de austeridade recolocaram a estatal no azul, mas o ciclo se inverteu novamente a partir de 2023. Os patrocínios culturais retornaram, o passivo previdenciário explodiu e os Correios voltaram ao prejuízo bilionário – R$ 4,3 bilhões só no primeiro semestre de 2025. Nada revela melhor a falta de rumo do que repetir políticas fracassadas e esperar resultados diferentes.
Os defensores desse modelo tentam reduzir o problema a cortes, mudanças de gestão ou fatores conjunturais. Mas, conforme os números, o buraco é mais embaixo – o colapso atual é consequência direta de decisões políticas tomadas nos governos Lula e Dilma, que trataram a estatal como instrumento ideológico e ferramenta de conveniência.
Defender que os Correios vão se recuperar com gestão pública é ignorar décadas de ingerência política e rombos sucessivos. Privatizar não é ideologia, é necessidade urgente. Alemanha e Holanda, países que adotaram modelos privados, transformaram seus serviços postais em operações modernas e lucrativas. A privatização é a única saída para proteger o pagador de impostos e garantir que o serviço funcione.
A crise dos Correios é tríplice – operacional, patrimonial e previdenciária – e levará décadas para ser corrigida. Mas o primeiro passo é admitir a raiz do problema: a estatal foi usada como se fosse infinita, imune a erros e disponível para qualquer projeto que agradasse ao governo da vez. Os prejuízos estão aí. O país inteiro está pagando a conta.
Ramiro Rosário é vereador de Porto Alegre pelo partido NOVO.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



