No ano de 2022, encontramos um cenário de aparente normalidade, pós-pandemia. As escolas voltaram às suas atividades, as medidas restritivas e de prevenção à Covid-19 foram aliviadas, os serviços se normalizaram, a rede de apoio das famílias voltou a atuar. As mães – e não somente elas, mas especialmente elas –, estafadas com suas jornadas e já sentindo falta da interação com os colegas de trabalho, veem no retorno ao trabalho presencial ou híbrido uma espécie de analgésico para períodos tão difíceis. Como durante a pandemia as famílias conheceram os benefícios do home office e houve uma mudança de cultura, observa-se agora a preferência pelo trabalho híbrido, mas ao mesmo tempo uma dificuldade em estar 100% presencial nos trabalhos. A gestão do tempo ganhou uma importância ainda maior.
Como nós, mães, sempre trabalhamos de forma presencial, dividindo-nos com as tarefas domésticas, e passamos por essa mudança cultural, agora é o momento de nos aculturarmos novamente e trabalhar nossa gestão do tempo. O mercado certamente mudou, mas ainda teremos trabalho presencial ou híbrido; não teremos saída.
Atualmente as empresas estão adotando muitas políticas que favorecem as mães, como a licença-maternidade de seis meses, horários flexíveis e diferenciados, o aumento da licença-paternidade, auxílios creche e escola, flexibilidade de regime de trabalho. Além disso, vemos o aumento do número de mulheres ocupando cargos de liderança. Porém, esses fatores não refletem a realidade da maioria das empresas. Observamos o mercado voltando para o que era antes: regime presencial, rotinas de reuniões e viagens, a vida profissional bastante agitada.
Na sua maioria, não existe muita flexibilidade para as dificuldades das mães, e também ainda há muito preconceito. Segundo o estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em março de 2021, apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos que têm crianças de até 3 anos em casa estão empregadas. Assim, o regime híbrido tem sido o preferido por grande parte das profissionais, por enquanto – com exceção daquelas que ocupam posições de liderança, que estão preferindo o regime presencial. Apesar de observarmos um avanço muito grande nas práticas das empresas, ainda encontramos preconceito contra a mãe em processos seletivos e de sucessão. Não é por acaso que temos poucas mulheres em cargos de liderança e de conselhos.
Uma das mudanças culturais que herdamos da pandemia é que aprendemos a trabalhar melhor com a tecnologia, o que facilita em momentos mais difíceis. No entanto, a forma de pensar de todos os profissionais, principalmente as mamães, mudou. Hoje, damos mais valor à nossa saúde, à qualidade de vida e à família. Apesar de passarmos por uma evolução durante a pandemia, o mercado ainda é cruel com a maternidade. Assim, concluímos que as empresas que não valorizarem a parentalidade ficarão deslocadas. Até porque quando falamos de parentalidade estamos ampliando a responsabilidade dos filhos para as mães e os pais. Dessa forma, mães e pais poderão participar ativamente da vida dos seus filhos e ainda se desenvolver profissionalmente. Hoje, a mulher que é mãe acaba escolhendo entre a maternidade e seu desenvolvimento profissional. O acúmulo de trabalho e dos cuidados com os filhos fez 30% das mulheres considerarem deixar a carreira desde o início da pandemia, segundo pesquisa da Kearney, feita nos EUA.
O profissional feliz e realizado pessoal e profissionalmente, em consequência, produz mais – independentemente de ser homem, mulher, mãe ou pai. O mercado luta para acabar com qualquer preconceito, mas ainda estamos bem distantes do cenário ideal. Apesar de pensarmos que quando a mulher tornar-se mãe ela produzirá menos, o que encontramos é muito diferente. A maternidade traz à mulher habilidades que são importantes no mercado, como liderança humanizada e inspiradora, gestão do tempo, capacidade de delegar tarefas, empatia, resiliência e, principalmente, inteligência emocional. A maternidade traz força.
Empresas que possibilitam o desenvolvimento de profissionais mães tendem a ganhar muito com suas soft skills adquiridas ou ampliadas na maternidade. O acolhimento e a flexibilidade são importantes, mas o que mais conta é a empatia e o olhar isento do preconceito segundo o qual a profissional que é mãe não vai dar conta.
Pesquisas nos mostram que as mães sofreram uma sobrecarga muito grande durante suas atividades no home office, por terem de se dedicar a atividades profissionais e domésticas, sem contar que a sua rede de apoio (escolas, creches, babás, empregadas domésticas e parentes) estava com restrições. Assim, temos uma pequena demonstração de que conciliar a maternidade e o mercado de trabalho não é – e nem nunca foi – uma tarefa simples. Segundo o IBGE, em 2019, 85,7% da população realizou afazeres domésticos no Brasil, com significativa participação das mulheres (92,1% contra 78,6% de homens). Com a pandemia, nosso olhar com relação ao trabalho sofreu uma mudança. O home office trouxe aos profissionais melhora da qualidade de vida pessoal, maior tempo para se dedicar a projetos pessoais e, principalmente, maior tempo para cuidar da família. Mas essa experiência é mais complexa quando se trata das mães.
Elaine Pacheco é coordenadora do Núcleo de Empregabilidade da FAE Centro Universitário.
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