A eletrificação de veículos deixou de ser algo do futuro para se tornar uma realidade nos grandes centros urbanos. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), já são mais de 52 mil veículos elétricos em circulação no país, 8.230 deles (o equivalente a 20% da frota elétrica brasileira) emplacados na cidade de São Paulo. Com a popularização dos carros elétricos, constantemente surgem novas ações em todo o mundo. Recentemente, na capital paulista, entrou em vigor a Lei 17.336, que obriga prédios novos construídos na cidade a oferecer um sistema de recarga para veículos elétricos.
Na Europa, os planos são de chegar à produção de 6 milhões de veículos elétricos anualmente até 2028. Os chineses querem fabricar 8 milhões deles por ano também até 2028, o que mexeu com o ego do presidente norte-americano. Joe Biden demonstrou publicamente seu descontentamento com esse despontar chinês em sua visita recente à montadora da Ford, no estado de Michigan, quando foi conhecer uma picape elétrica da fabricante.
Biden reconheceu que seu país está em desvantagem diante do maior rival econômico, mas, além de afirmar que esse é o futuro da indústria automobilística, garantiu que não deixará a China ganhar essa corrida de inovação, ou seja, vai estimular o segmento como já ocorre na Europa, com isenção de impostos na Noruega ou com os subsídios do governo alemão para o cidadão que optar por um veículo elétrico.
Ford, Volkswagen, General Motors, Volvo, BMW, Hyundai e outras fabricantes já anunciaram altos investimentos na produção dos elétricos e não apenas em veículos de luxo, mas em todos os segmentos. Esse engajamento mundial não é à toa, ainda que de forma alguma estejamos decretando ou vislumbrando o fim do veículo a combustão, cuja frota mundial ultrapassa a casa do 1,2 bilhão contra os 100 milhões de carros elétricos.
O mercado crescente tem muitas razões. A primeira delas é sabidamente a poluição, um dos grandes problemas da humanidade. O carro elétrico não emite gás de efeito estufa e oferece outros benefícios. O motor do elétrico tem maior durabilidade. Um veículo comum tem mais de 2 mil peças, contra 250, em média, do carro elétrico; fácil deduzir que os gastos com manutenção sejam menores, e são mesmo: apenas R$ 250 deste contra R$ 800 daquele. Imagine essa diferença para empresas que trabalham com frotas? Felizmente por aqui, grandes corporações já se mostraram sensíveis à questão da poluição e, naturalmente, à questão financeira, e adotaram a frota elétrica. É fato que o Brasil caminha a passos mais lentos nessa área, mas caminha.
Precisamos todos, governos, fabricantes e sociedade civil, entender que os carros elétricos são o caminho. O tempo para que eles ganhem o mercado vai depender da disposição e do envolvimento de cada ator desse roteiro.
O governo de Minas Gerais assinou o protocolo de intenções do Projeto Colossos, que prevê investimentos de R$ 25 bilhões na produção de carros elétricos. Projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados prevê isenção total de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os elétricos e de 50% desse imposto para os híbridos (com propulsão elétrica e convencional).
Iniciativas como essas são sempre muito bem-vindas, assim como a do estado de São Paulo. Afinal, não se trata apenas do desenvolvimento do carro elétrico: é a criação de toda uma infraestrutura para mantê-lo, que envolve postos de recarga e mão de obra especializada, por exemplo. Recentemente, o governador João Doria anunciou o novo pacote fiscal para ajudar na retomada econômica no momento pós-isolamento causado pela pandemia no novo coronavírus. Desta forma, haverá uma redução da alíquota do ICMS de setores geradores de empregos a partir de janeiro de 2022; entre os setores que serão beneficiados estão o de eletromobilidade e o de carros usados. Na prática, isso significa que os carros elétricos e usados ficarão mais baratos na cidade. No ano que vem, em São Paulo, ônibus, caminhões e veículos elétricos e híbridos terão o ICMS reduzido dos atuais 18% para 14,5%.
Além disso, há um outro fenômeno nessa direção: a transformação de carros a combustão em elétricos. O processo ainda é caro, gira em torno de R$ 20 mil e a regulamentação é burocrática. Primeiro, é necessária a autorização do Detran; depois, o veículo precisa passar pela inspeção veicular para obter o Certificado de Segurança Veicular (CSV) e, finalmente, receber o Certificado de Adequação à Legislação de Trânsito (CAT). Porém, mesmo com todo esse trâmite, é crescente no país o número de oficinas que fazem esse serviço e a tendência é de que o valor seja cada vez menor e os processos sejam simplificados.
Precisamos todos, governos, fabricantes e sociedade civil, entender que os carros elétricos são o caminho. O tempo para que eles ganhem o mercado, principalmente o mercado brasileiro, vai depender da disposição e do envolvimento de cada ator desse roteiro.
Guilherme Cavalcante, formado em Tecnologia e Mídias Digitais, e pós-graduado em Design de Projetos Especiais e em Inteligência de Mercado, é CEO e fundador do UCorp.
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