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Sêneca, um antigo profeta cujas mensagens permanecem sempre relevantes, vem alertar sobre a brevidade da vida. Nesta ocasião, o estoico adverte seu amigo Paulino de que o tempo é curto, terrivelmente limitado, enquanto nosso desejo de conhecer e lutar por inúmeras coisas, como nossa alma, é infinito. Esta breve obra, observa o tradutor, dirige-se também ao “Paulino” que existe dentro de cada um de nós, aquele que está cansado de desperdiçar tempo.
A obra começa listando as observações que muitos homens fazem sobre a brevidade da vida: “como o tempo voa”; “parece que foi ontem que…”; “como a vida é curta e quanta coisa há para fazer”; “se eu fosse jovem de novo, faria isso e aquilo”. Diante de todas essas queixas, Sêneca as confronta com uma afirmação: “Não temos pouco tempo, mas desperdiçamos muito dele” (p. 38).
Sêneca busca demonstrar que apenas aqueles que, preocupados com mil coisas, negligenciam o que é importante consideram a vida curta
Ou seja, aqueles que estão constantemente “ocupados” e não tiveram tempo para viver, sentir, amar e fazer tudo o que é próprio de um ser humano vivo. Para eles, e somente para eles, a vida parece curta. Para os outros, é diferente, pois “é característico de uma mente serena e tranquila explorar todos os aspectos da vida” (p. 72). Ele acrescenta: “Aos ocupados, pertence apenas o momento presente, que é tão breve que não pode ser retido; mas até isso lhes é tirado, pois estão distraídos por muitas coisas” (p. 73).
A leitura de Sêneca lembra um pouco a parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), que se vestia de púrpura e linho fino, ia de banquete em banquete, mas não conseguia ver, muito menos ajudar, o pobre Lázaro. Então, quando suas vidas terminam, diz Sêneca, “velhos decrépitos imploram com súplicas que lhes sejam concedidos mais alguns anos” (p. 74).
Suas vidas estão se esvaindo, embriagadas por seus apetites: “Por todos os lados, os vícios os pressionam e os cercam, e não lhes permitem ficar de pé ou levantar os olhos para o conhecimento da verdade” (p. 41).
As mesmas frivolidades de sempre permanecem hoje. As antigas denúncias de Sêneca ressoam fortemente no presente: horas e horas diante do espelho, admirando-se ou sentindo-se constrangidas; horas dedicadas ao bronzeamento artificial; horas no cabeleireiro, arrumando, acrescentando, removendo, mudando… Elas se preocupam mais, revela o autor, com os cabelos do que com a República, com os penteados do que com a própria existência.
Todas essas pessoas “não têm lazer, mas sim uma vida indolente” (p. 79). Para essas pessoas, denuncia Sêneca, para aquelas que entregam suas vidas aos vícios e prazeres, o tempo se esvai rapidamente.
Há também aqueles que não são tão perversos quanto Epulão, mas passam a vida jogando bola, e suas alegrias e tristezas se tornam supérfluas, e logo suas vidas são consumidas pelo resultado de um jogo, pelo fechamento da bolsa de valores e pelo número de “curtidas” que suas postagens recebem.
Há também aqueles que vivem ancorados na melancolia do passado e aqueles que se preocupam com o futuro. Mas nem o passado nem o futuro existem de fato, e a vida se esvai em coisas que não existem. Assim, a vida daqueles que negligenciam o presente, ignoram o passado e temem o futuro é breve e inquieta (cf. p. 99).
Ao mesmo tempo, o autor observa um paradoxo: precisamente aqueles que afirmam que a vida é curta são os mesmos que, no seu dia a dia, se queixam de que o tempo passa devagar; mas, na realidade, não é que o dia lhes pareça longo, mas sim que o consideram odioso. E, quando chegam ao fim da vida, queixam-se de que ela foi curta, porque “ficaram tanto tempo ocupados sem fazer nada” (p. 100).
Sêneca também critica aqueles que acreditam estar fazendo muito, mas que na realidade não realizam nada. Pois, sobrecarregados pela rotina diária e inúmeras outras tarefas, esquecemos o que realmente importa.
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A mensagem do autor ressoa em nossas vidas agitadas e nos concentra no que é verdadeiramente importante: cultivar a mente e, consequentemente, trabalhar as virtudes para alcançar a sabedoria.
Eles se comportam como loucos. Perturbam a si mesmos e aos outros (cf. p. 95). Suas vidas são consumidas por um milhão de “ocupações”, quando a única ocupação verdadeira é lidar com a sabedoria.
A vida dos ocupados é miserável (p. 114). “Enquanto isso, enquanto roubam e são roubados, enquanto um perturba a paz do outro, enquanto se tornam miseráveis mutuamente, a vida não tem prazer, alegria ou benefício para a alma. Ninguém tem a morte em mente, ninguém projeta sua esperança para longe” (p. 117).
A vida parece curta, não porque realmente o seja, mas porque “você vive como se fosse viver para sempre” (p. 46). Mas não: o tempo é limitado (não curto) e deve ser bem aproveitado para fazer o que só nesta vida podemos fazer, diz Sêneca: crescer no cultivo da sabedoria. O verdadeiro lazer e a verdadeira vida pertencem àqueles que se dedicam ao cultivo da sabedoria.
O sábio conquistou o tempo: ele mergulha em um presente eterno, contemplando verdades últimas e universais. Não se lembra do passado com melancolia, nem do futuro com medo. O presente é o mais real e o mais próximo da eternidade. Assim, Sêneca exorta: “Tudo o que está por vir é incerto: viva agora” (p. 61).
O convite é claro: é preciso deixar o animus districtus, disperso, desviado em diferentes direções, e dirigir-se para o otium, cultivando a vida interior e evitando a agitação do mundo. A pessoa sábia transcende o tempo fugaz e transitório e mergulha na eternidade. Ela conquistou o passado e é “capaz de conversar com Sócrates e questionar com Carnéades”.
A pessoa sábia não apenas não desperdiça o tempo dos outros, mas também os edifica através de sua vida. “Nenhum destes (os filósofos antigos) destruirá seus anos, mas acrescentará os seus próprios anos aos seus; a conversa com nenhum deles é perigosa, sua amizade não leva à morte” (p. 97). “Estes lhe darão um caminho para toda a eternidade e o elevarão àquele lugar de onde ninguém é expulso” (p. 98). A vida da pessoa sábia não é breve.
Aquele que vive com sabedoria transforma a mortalidade em imortalidade e mergulha nas profundezas da eternidade
(cf. p. 98-99)
Nesse sentido, Sêneca mostra que o sábio não teme a morte, pois viveu bem e seus ganhos não perecerão com a morte terrena: “o sábio não hesitará em ir para a morte com passo firme” (p. 75).
E, para aqueles que conheceram a Sabedoria, passar a vida significa conhecê-Lo, e tudo o mais é considerado perda (Filipenses 3:8). Quanto mais, de uma perspectiva cristã, esse horizonte se expande; nesta vida, não há bem maior do que o conhecimento de Cristo, que nos leva à união com Ele. Todo o resto é lixo: “Voltem para esses bens mais tranquilos, mais seguros, melhores!” (p. 112).
Em suma, como a análise de uma obra tão curta não pode ser tão longa, Sêneca vem nos dizer que o tempo é muito escasso e, ao despertar seu amigo, faz o mesmo conosco, com uma exortação semelhante à que outra amiga recebeu em seu tempo de seu Amigo: “Você está agitada e ansiosa!” (Lc 10,41-42).
©2025 Revista Suroeste. Publicado com permissão. Original em espanhol: Perdiendo el tiempo, perdiendo la vida



