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O Brasil acordou com uma taxa adicional de 50% sobre as exportações aos Estados Unidos. É óbvio que isso causa comoção, principalmente entre o nosso setor produtivo, mas essa medida nem de longe é novidade no cenário internacional. Desde a chegada de Donald Trump ao poder, os americanos lançam mão de uma política agressiva no comércio exterior, na tentativa de defender os seus interesses e, claro, amealhar um pouco de popularidade junto ao público interno, no momento em que o governo republicano deixa a lua de mel com a opinião pública para encarar seus primeiros sinais de desgaste.
A um observador distante da realidade, ou mesmo com pensamentos utópicos, não é possível imaginar que, na era em que as distâncias são cada vez mais encurtadas pelos meios de produção e pela tecnologia, grandes barreiras comerciais estejam sendo interpostas por governos que, em teoria, possuem economia aberta, como os Estados Unidos e os integrantes da União Europeia — apenas para citar dois exemplos. Esse é o comércio internacional do século XXI.
Somos a maior economia do hemisfério Sul do planeta e a décima do mundo. Lideramos a América Latina e, apesar da conotação ideológica que o governo federal insiste em desenhar para os BRICS, é inegável que também temos relevância na construção desse cenário contemporâneo de multilateralismo.
Goste-se ou não dessa realidade, o Brasil é um ator importante nesse cenário, e seria de um otimismo irrealista — ou de alarmante e cruel inocência — imaginar que as placas tectônicas dos interesses políticos, econômicos e até sociais não causariam abalos em nossa economia.
o governo federal, a quem cabe essa responsabilidade, não tem apresentado uma política clara de estímulo às nossas exportações. O cenário futuro não é amigável
Para criar mecanismos de defesa para os exportadores brasileiros, elaborei o Projeto de Lei 6.139/25, que estabelece o Sistema Brasileiro de Crédito Oficial à Exportação. Na prática, esse projeto aprimora uma lei já existente (12.712/12), ao estabelecer novas regras para o Fundo Garantidor de Operações de Comércio Exterior (FGCE), por meio de apoio oficial, com a participação de financiadores e seguradores privados, cobrindo o risco comercial em operações de crédito com prazo inferior a dois anos — tornando o governo brasileiro, de fato, um importante parceiro para as micro, pequenas e médias empresas que querem ganhar o mundo.
Há muito, a expressão made in Brazil deixou de ser apenas marca da nossa alegria, hospitalidade e criatividade. Hoje, a percepção desses sentimentos integra produtos e serviços que são valorizados internacionalmente. Aprendemos com a crescente desvalorização das commodities a buscar o desenvolvimento de novos nichos no mercado global. Porém, essa conquista demanda pesquisa, desenvolvimento e apoio.
Infelizmente, o governo federal, a quem cabe essa responsabilidade, não tem apresentado uma política clara de estímulo às nossas exportações. O cenário futuro não é amigável. Mas o Senado Federal, por meio de iniciativas como esse projeto de minha autoria, tem buscado fornecer ao empreendedor brasileiro a segurança básica para que ele possa enfrentar seus concorrentes internacionais em condições justas.
Não pensemos que a questão da taxação atinge apenas setores específicos e não diz respeito à população em sua totalidade. O reflexo na balança comercial irá se manifestar no aquecimento da economia, na manutenção de empregos e na arrecadação dos impostos que, mais tarde, serão transformados em investimentos em saúde, educação, segurança, infraestrutura e outros setores. Defender as exportações brasileiras é defender nossa gente.
Ao mesmo tempo, é necessário buscar o equilíbrio para que o país não crie muros tarifários que isolem o nosso mercado e encareçam o custo de vida do brasileiro. Nesse sentido, outro projeto de lei, o de número 3.414/25, também de minha autoria, amplia o limite de remessas expressas e moderniza o regime de importação com isenção para compras de até 50 dólares, estimulando não apenas as importações de pequena monta, mas também dinamizando os setores de comércio eletrônico, revenda e logística.
Como se vê, buscar o equilíbrio na balança comercial não é apenas figura de linguagem. Trabalhamos para que a balança comercial não venha a pesar contra o cidadão.
Mecias de Jesus é senador pelo Republicanos – RR.



