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Três economistas foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia em 2025. São eles o holandês naturalizado norte-americano Joel Mokyr, da Universidade Northwestern (EUA), o francês Philippe Aghion, do Insead (França) e da London School of Economics (Reino Unido), e o canadense Peter Howitt, da Universidade Brown (EUA).
Mokyr é um historiador econômico que trouxe elementos para entender as razões de a Primeira Revolução Industrial ter ocorrido na Europa e, mais especificamente, no Reino Unido. Em seus estudos, ele destaca a importância de um ambiente propício para geração de ideias e a dificuldade dos países europeus em bloquear o surgimento e a propagação de novos conhecimentos. Especificamente no Reino Unido, porque existia maior capital humano e divisão do trabalho em relação a outros países europeus.
A tecnologia, apesar de causar certa instabilidade quando introduzida, é fundamental para a melhora do padrão de vida. No Brasil, o desafio maior está em absorver o conhecimento gerado nos países avançados
Aghion e Howitt desenvolveram um modelo matemático formalizando a ideia de destruição criativa, em que o surgimento de novos produtos, que é a base do crescimento econômico, ocorre de forma a tornar obsoletos os bens e serviços anteriormente produzidos.
Os três laureados com o Nobel de Economia trazem lições importantes para o Brasil. Há um consenso na economia e no campo do crescimento econômico de que o processo de crescimento sustentável ocorre pelo surgimento de novas ideias utilizadas produtivamente na forma de uma organização distinta da produção que tende a reduzir custos ou na introdução de produtos de melhor qualidade. As novas tecnologias surgem, em muitos momentos, de forma disruptiva, ou seja, criando novos mercados, alterando a estrutura de concorrência e os players relevantes. Adicionalmente, as novas tecnologias destroem parte do capital humano ao tornar obsoleto o conhecimento existente, criando demanda por novas habilidades no mercado de trabalho.
Como há perdedores e ganhadores, as empresas, instituições e pessoas que se beneficiam do status quo tendem a oprimir o surgimento de novos conhecimentos e tecnologias para que não percam suas posições de destaque. Por outro lado, é justamente o avanço tecnológico que abre possibilidades de melhorias na oferta de bens e serviços que são essenciais para melhorar a qualidade de vida da população, como, por exemplo, novos remédios e serviços de saúde, produção de carros mais seguros e com custos mais baixos, maior facilidade no acesso à informação, além de propiciar o aumento da renda.
Dessa forma, a tecnologia, apesar de causar certa instabilidade quando introduzida, é fundamental para a melhora do padrão de vida. No Brasil, o desafio maior está em absorver o conhecimento gerado nos países avançados, visto que ainda há uma grande distância de produtividade e tecnologia utilizadas no nosso país em relação aos países que estão na fronteira do conhecimento. Para isso, precisamos de regras que estimulem a adoção de novas tecnologias e reduzam o poder de monopólios e grupos de interesse que inibem a adoção de novas tecnologias.
Como mostram os laureados com o Nobel de Economia, investimentos em capital humano também são fundamentais para absorver essa tecnologia, gerar novos conhecimentos e para que as pessoas possam se adaptar melhor a esse ambiente de constantes mudanças tecnológicas. Precisamos focar na qualidade do ensino, sobretudo das escolas públicas, além de suporte psicológico e emocional para as famílias de baixa renda, para que possamos acelerar o processo de acumulação de capital humano e, dessa forma, a absorção e geração de novas tecnologias.
Luciano Nakabashi é doutor em economia e professor associado da FEARP/USP e pesquisador visitante da Brown University.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



