Uma pergunta que não quer calar: por que a indústria brasileira de pneus, na verdade constituída por empresas multinacionais, estaria pleiteando o aumento do Imposto de Importação sobre os importados, sendo que ela própria traz de suas matrizes em outros países uma parcela dos produtos que oferece ao mercado interno para suprir sua incapacidade produtiva? Não há lógica, à luz da livre economia, na atitude de um setor em defender medida que impacta seus próprios custos.
Por isso mesmo, são absolutamente indefensáveis as justificativas para a reivindicação de aumento de 16% para 35% das alíquotas, à espera de votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex). Alega-se, de maneira equivocada (para não dizer falaciosa), que há concorrência desigual com os pneus importados (menos os dos próprios pleiteantes?), que já dominam mais de 50% do mercado nacional, segundo as empresas que pedem a majoração. Este percentual é verdadeiro, mas não se deve a quaisquer vantagens competitivas de caráter tributário ou artificial, mas sim à qualidade dos produtos e ao estabelecimento de um preço justo.
Recorrer ao paternalismo do Estado para tentar garantir a todo custo uma reserva sobre parcela do mercado é uma atitude anacrônica e lesiva aos preceitos da livre economia
Na realidade, o custo de produção de pneus no Brasil é semelhante ao dos “temidos” concorrentes asiáticos, mas os fabricantes (multi) nacionais preferem não baixar os preços para competir de modo transparente, leal e ético no mercado. Sua real intenção é continuar vendendo caro, confiantes no indiscutível valor e tradição de suas marcas. Porém, os brasileiros vão percebendo que, muito além do branding, existem vários outros atributos a serem considerados na hora de comprar um pneu.
Afinal, informações amplas e corretas sobre quaisquer temas estão a apenas um clic dos consumidores de todo o mundo. Ah, e as notícias sobre qualidade, valores e durabilidade andam rapidamente pelas estradas do país. Frotistas e caminhoneiros interagem e conversam, mais do que pode supor a vã filosofia.
O mais grave de toda essa pândega protecionista é a previsível consequência econômica caso o governo acate o pedido de sobretaxar o imposto. Haveria uma elevação de 20% no preço final, conforme avalia a Abidip, entidade representativa dos importadores do setor. Os fretes seriam majorados entre 2% e 5%. Cabe considerar nesses cálculos que o pneu representa o segundo maior custo do transporte, atrás apenas do diesel. Seria inevitável repassar o aumento a todos os usuários finais do produto, com inevitável pressão inflacionária.
Recorrer ao paternalismo do Estado para tentar garantir a todo custo uma reserva sobre parcela do mercado é uma atitude anacrônica e lesiva aos preceitos da livre economia. Agravar o Imposto de Importação é uma reivindicação que atende apenas aos interesses de algumas poucas empresas multinacionais, em detrimento dos transportadores de passageiros e cargas, dos proprietários de veículos em geral, dos consumidores e da economia do Brasil. Que prevaleça o bom senso!
Samer Nasser é o diretor de Relações Institucionais da XBRI Pneus.
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