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O crescimento das apostas esportivas no Brasil trouxe não apenas oportunidades econômicas, mas também desafios éticos e sociais que não podem ser ignorados. Um dos mais urgentes é a compulsão por apostas, problema que afeta milhares de brasileiros e tende a crescer à medida que a população vai entrando em contato com as empresas do setor e se familiarizando com sua presença cada vez mais intensa e onipresente.
Nesse sentido, ficam para reflexão algumas perguntas: o que as casas de apostas devem fazer para garantir a segurança dos usuários, incluindo a parcela vulnerável do público, e quais critérios de promoção das suas atividades elas devem adotar para evitar o estímulo ao jogo compulsivo?
O primeiro passo é reconhecer que a publicidade é uma força de influência. E por esse motivo é amplamente fiscalizada. Expressões como “fique rico”, “ganhe fácil” ou “vitória garantida”, por serem enganosas, simplesmente são proibidas. Da mesma forma ocorre com os apelos emocionais da comunicação, que associam o jogo ao sucesso pessoal ou à felicidade. Esse tipo de narrativa distorce a realidade e fragiliza ainda mais os consumidores vulneráveis, como no caso dos apostadores financeiramente carentes.
Campanhas responsáveis devem focar a diversão com o risco, adotar regras de transparência e fazer advertências visíveis sobre o risco de dependência, de forma semelhante ao que já acontece em outros setores, como o de bebidas alcoólicas e fumo, por exemplo. E que deveria acontecer com diversos outros produtos e serviços que estimulam o gasto desenfreado. Omitir essas informações das propagandas, em qualquer setor econômico, deve ser alvo de sanções por parte dos órgãos responsáveis pela regulação e fiscalização no meio publicitário.
Outros aspectos que merecem ser abordados referem-se à legalidade das casas de apostas. Por exemplo, ainda é muito fraco o conhecimento da população em geral de que somente empresas que atuam com o domínio que termina em BET.BR são autorizadas a funcionar no Brasil. Casas de aposta ilegais são veículos de desinformação e representam verdadeiras ameaças à saúde mental e emocional dos apostadores.
Num momento em que a regulamentação do setor está em curso, o Brasil tem a chance de se tornar referência internacional em comunicação ética e jogo responsável. A publicidade precisa ser vista não apenas como ferramenta de persuasão, mas também como instrumento de consciência social.
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A EBAC – Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo – vem desempenhando um papel importantíssimo nesse cenário junto aos principais operadores e vem se consolidando na gestão inovadora do jogo responsável. O programa Compulsafe, criado por nós, oferece informações para garantir apostas seguras, apoio aos apostadores e conformidade com a legislação brasileira. Implementamos práticas de monitoramento de riscos, incentivamos o uso das ferramentas de autocontrole e desenvolvemos um plano de ação personalizado para proteger o apostador individualmente.
Frear o avanço de comportamentos compulsivos no jogo, a ludopatia, é de responsabilidade de muitas instâncias da sociedade: empresas, influencers, órgãos fiscalizadores, poder público, mercados publicitário e midiático. Trata-se de um compromisso legal, moral e social: assegurar a saúde da população. Publicidade não deve ser uma armadilha, mas um instrumento de informação e consciência.
Cristiano Costa é psicólogo e diretor de conhecimento da EBAC.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



