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Quando começa uma eleição?

Eleições 2026: Lula tenta agir estrategicamente, enquanto Tarcísio e Zema constroem imagem com cautela. (Foto: Pablo Jacob/Governo de SP; Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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A pergunta não é retórica. Também não é nova. Mas talvez nunca tenha sido tão urgente.

A cada ciclo, repete-se a cena: candidatos que acordam tarde, apostam tudo nos 45 dias de campanha oficial e, após um resultado negativo, culpam a imprensa, o algoritmo ou o eleitorado. Mas o erro quase sempre está no calendário — ou, melhor dizendo, na ilusão dele. A eleição começa antes. Muito antes.

Basta observar o tabuleiro nacional para ver isso com clareza. Lula já está em campanha — não nos termos legais, mas nos simbólicos. Lançou programas, retomou a retórica do “nós contra eles”, viaja com foco em palanques estaduais e tensiona a narrativa sempre que possível. Sabe que 2026 será mais difícil do que 2022 — e, por isso, joga com antecedência.

Do outro lado, Bolsonaro não pode ser candidato, mas continua sendo o epicentro do campo à direita. Seus movimentos são limitados, mas sua influência permanece intacta. Seus herdeiros ensaiam passos comedidos, atentos ao tempo e ao tom. Tarcísio constrói sua imagem com cautela. Zema, com discrição. Ambos sabem que uma candidatura viável é aquela que amadurece antes de ser lançada. Enquanto isso, o centro tradicional se dissolve. E a terceira via real talvez não venha do equilíbrio — mas da ruptura estética.

É nesse cenário que o erro mais comum ganha destaque: imaginar que a campanha começa quando a lei permite. É uma crença confortável, mas profundamente equivocada. Porque a campanha começa quando o eleitor passa a prestar atenção. Quando nomes ganham densidade e, principalmente, reputações se formam — ou se deformam.

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Enquanto os principais nomes do país operam com método, cautela e planejamento, muitos candidatos regionais ainda apostam no improviso. Esperam o ano eleitoral como quem espera um sinal verde para começar a existir. Ignoram que, quando o cronômetro zerar, outros já estarão metros à frente.

Planejamento não é uma etapa da campanha. É a própria campanha. É nele que se define quem o candidato é, o que representa, a quem fala, com que linguagem e com quais símbolos. É no planejamento que se escolhe a posição no tabuleiro — e se evita ser apenas mais uma peça. Comunicar não é apenas aparecer. É ter coerência entre imagem e proposta, transformar presença em identidade — e identidade em voto.

A eleição começa agora. Não na urna. Não na propaganda. Começa na percepção pública — silenciosa, mas implacável. Ignorar isso é um erro de estratégia. E, como toda boa eleição mostra, não há improviso que reverta o tempo mal utilizado.

Lucas Braz é jornalista e consultor de comunicação da Critério.

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