Dentro das capacidades físicas e habilidades motoras treináveis na Educação Física, temos a percepção visual, noção espacial e visão periférica. Com elas, conseguimos manter a qualidade de movimentos, mesmo em situações que exijam muitas tomadas de decisões, resolução de pequenos problemas, mudanças de direções e movimentos diversos. E essas capacidades sofreram os efeitos das restrições impostas pela Covid-19.
Durante a pandemia da Covid-19, as atividades e exercícios físicos tiveram um direcionamento bem diferente do normal. Houve um significativo prejuízo devido ao isolamento do aluno/atleta resultando em queda desses fundamentos cognitivos que são muito trabalhados em atividades feitas em grupos e usando materiais esportivos específicos. Os treinos, na maioria das vezes, eram resumidos a um trabalho na frente do computador, em um ambiente fechado, restrito, sem que o aluno tivesse a devida orientação ou estímulo. Esse cenário levou a uma limitação no repertório motor e cognitivo das nossas crianças e adolescentes.
Notamos que durante o retorno das aulas práticas de Educação Física, quando os alunos entraram quadra - ou campo, ginásio, sala de ginástica e outros locais para a prática desportiva - o número de pequenos acidentes, impactos, lesões de diversos tipos passaram a ocorrer com maior incidência. Isso é efeito direto da inatividade física durante a pandemia.
Será necessário que as crianças e adolescentes, nessa fase de readaptação ao ensino presencial e em consequência às aulas de Educação Física e práticas esportivas, tomem cuidados extra em relação ao próprio corpo e dos colegas, evitando possíveis problemas físicos e de lesões que podem afastá-los das aulas e treinos. Isso ainda vai durar algum tempo, pois durante o isolamento, as pessoas - não apenas as crianças - perderam tônus muscular, capacidade cardio-respiratória, percepções de espaço, além de diminuir seu repertório motor devido a inatividade física. Outro efeito comum da brusca parada das atividades físicas em grupo imposta pela pandemia foi o aumento dos casos de obesidade e desvios posturais acentuados.
Como cada criança tem uma fisiologia própria, o tempo de readaptação pode variar bastante. Pais e professores precisam respeitar os limites físicos da criança, que em alguns casos pode precisar de mais apoio durante essa readaptação. Também é muito importante salientar que a higiene pessoal, boa alimentação, hidratação adequada, diminuição do nível de estresse, entre outros fatores, são determinantes para a melhor readaptação física e cognitiva. Com esses cuidados, nossas crianças poderão, finalmente, reverter os prejuízo físicos e cognitivos acumulados durante o lockdown.
Maurício Segatto é professor de Educação Física no Colégio Marista Glória, em São Paulo (SP).
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