No dia 18 de junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu que os consumidores paranaenses clientes da Copel não terão aumento na tarifa de energia. Há duas justificativas para tal decisão: créditos do PIS/Cofins gerados por uma ação judicial vencida pela Copel em 2020 (situação transitória) e redução das parcelas de pagamento dos empréstimos da conta Covid-19 e conta escassez hídrica.
Na mídia, a notícia da manutenção da tarifa de energia elétrica ganhou contornos de comemoração por parte da empresa e do governo estadual, como se o feito fosse reflexo de melhorias no sistema e da modernização da rede elétrica no Paraná. Essas medidas, caso fossem realizadas na prática, poderiam contribuir para a manutenção da tarifa (ou até mesmo redução). Mas essa não é a realidade no Paraná.
Em tempos anteriores, a Copel era um orgulho para o povo paranaense. Precisamos, urgentemente, voltar a esse patamar de referência nacional
O fato de os clientes da Copel não terem aumento na tarifa nos próximos 12 meses (entre julho deste ano e junho de 2025) apenas minimiza o fornecimento precário de energia elétrica no nosso estado, principalmente no meio rural. Como o Sistema FAEP/SENAR-PR tem alertado nos últimos meses, o serviço prestado pela Copel tem deixado a desejar, com quedas consecutivas de energia elétrica e oscilações frequentes na tensão da rede, a ponto de causar mortes de milhares de animais, perdas de produção e equipamentos danificados, que resultam em prejuízos milionários para os nossos agricultores e pecuaristas.
Inúmeros ofícios do Sistema FAEP/SENAR-PR e de dezenas de sindicatos rurais já foram encaminhados ao governo estadual, à própria Copel e aos deputados da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), pedindo providências. Afinal, a energia elétrica é um importante insumo no campo, fundamental para a produção de leite, frango, peixe, suíno, entre outras atividades agropecuárias. Para se ter ideia do drama dentro da porteira, em 2021, por exemplo, o produtor rural ficou, em média, 30 horas sem energia (esse período médio foi de sete horas na cidade).
Essa percepção do serviço precário realizado pela Copel está registrada em uma pesquisa recente, encomendada pelo Sistema FAEP/SENAR-PR. Exatos 85% dos entrevistados não estão satisfeitos com a estabilidade no fornecimento. O grau de insatisfação aumenta nos polos produtivos que se dedicam a atividades intensivas no uso de energia, como avicultura, piscicultura, suinocultura e pecuária leiteira. Mais da metade dos produtores rurais ouvidos enfrentou mais de uma dezena de apagões ao longo do último ano. Segundo a pesquisa, 38,7% dos produtores tiveram mais de 20 casos de queda de luz nos últimos 12 meses. Outros 19,1% dos entrevistados vivem em propriedades que sofreram entre 10 e 20 episódios de falta de energia.
Em tempos anteriores, a Copel era um orgulho para o povo paranaense. Precisamos, urgentemente, voltar a esse patamar de referência nacional. Para isso é preciso que investimentos voltem a acontecer e uma gestão assertiva seja colocada em prática. Não queremos apenas comemorar o reajuste de 0% na tarifa. Mas celebrar o fato de termos um fornecimento de energia, no campo e na cidade, que não deixe produtores rurais e cidadãos urbanos às escuras, em meio a um apagão coletivo.
Ágide Meneguette é presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR.
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