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A crise da segurança pública no Rio de Janeiro é um retrato doloroso de como o Brasil, ao longo das décadas, permitiu que territórios inteiros fossem sequestrados pelo crime organizado e pela milícia. Quando essas estruturas criminosas ocupam o espaço que deveria ser do poder público, o resultado é previsível. Medo, violência, controle territorial e uma população refém. Esse cenário, que se repete geração após geração, é algo que a população fluminense clama por uma solução.
Nesse contexto, a Operação Contenção se tornou um marco importante. Ela não resolveu por completo os problemas da criminalidade, mas retirou diversos criminosos de circulação, apreendeu armas e mostrou, de forma inequívoca, o poderio do Estado quando age de forma integrada e com firmeza.
O Rio de Janeiro não precisa repetir os erros que já custaram tantas vidas. Segurança pública duradoura exige estratégia completa. Polícia forte, presença territorial, inteligência integrada e políticas sociais. Quando o governo entra com todas as suas dimensões, o crime perde espaço
E a reação não parou por aí. Logo em seguida, o governador Cláudio Castro anunciou a Operação Barricada Zero, um passo decisivo dentro da estratégia de retomada de territórios. As barricadas são verdadeiras afrontas à liberdade de ir e vir, prejudicando tanto a polícia quanto os moradores das comunidades. Eliminar tais obstáculos representa um grande avanço nesse processo e uma afirmação clara de que o poder público não aceitará dividir território com o crime organizado.
No entanto, é preciso reconhecer a verdade que a experiência brasileira já demonstrou inúmeras vezes. Ocupação policial, sozinha, não resolve o problema. Quando o Estado entra apenas com armas, mas não com educação, urbanização, saúde, presença institucional e oportunidades reais, a ocupação se torna temporária e frágil. As causas que alimentam o crime continuam vivas e acabam substituindo rapidamente qualquer avanço inicial.
O melhor exemplo desse equívoco está no fracasso das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio durante o governo Sérgio Cabral. A UPP nasceu com discurso moderno, prometendo uma retomada definitiva dos territórios. O que faltou foi justamente o que faz qualquer política de segurança se sustentar. O braço social. As comunidades receberam o Estado armado, mas não receberam o Estado que oferece dignidade. A emblemática ocupação do Complexo do Alemão mostrou isso de forma clara. O mundo viu os blindados avançando morro acima, mas não viu serviços públicos chegando com a mesma força. Sem saúde, sem escola, sem infraestrutura, sem presença estatal permanente, o território voltou a ser dominado pelo crime.
O Rio de Janeiro não precisa repetir os erros que já custaram tantas vidas. Segurança pública duradoura exige estratégia completa. Polícia forte, presença territorial, inteligência integrada e políticas sociais. Quando o governo entra com todas as suas dimensões, o crime perde espaço. Quando entra apenas com fuzis, o crime recua de forma momentânea e retorna ainda mais adaptado e capacitado.
Os cidadãos querem viver em paz. Os policiais querem voltar para casa com segurança. As comunidades querem liberdade, oportunidade e respeito. O Estado precisa ser mais do que um visitante armado. Precisa se fazer presente permanente, impactando de forma positiva a vida daqueles que ali vivem.
O Rio de Janeiro só será realmente pacificado quando a política de segurança pública deixar de ser episódica e passar a ser integral. A reocupação deve continuar, mas precisa caminhar lado a lado com aquilo que faz o crime perder força de verdade. Educação, emprego, infraestrutura e presença institucional todos os dias, e não apenas quando o tiroteio estoura.
Essa é a única saída capaz de honrar a memória dos policiais mortos, proteger a população e impedir que novas gerações caiam nos braços do crime. O Rio merece uma política de segurança que una firmeza e humanidade. Sem isso, qualquer vitória será apenas temporária.
Alexandre Magnani é jornalista.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



