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A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros é um golpe duro na nossa competitividade comercial e, a meu ver, uma consequência direta dos péssimos caminhos escolhidos por Lula e seus ministros, tanto na política interna quanto nas relações internacionais.
Os impactos na nossa economia poderão ser críticos. Tal medida não penaliza diretamente as instituições e os indivíduos que a Casa Branca pretende atingir (nomeadamente, Lula e certos ministros do STF). Em vez disso, ela sobretaxa os produtores do Brasil, que são a espinha dorsal do nosso desenvolvimento.
Duas questões para entender essa situação são cruciais. A primeira envolve o debate sobre a equidade no pagamento de tarifas. Estamos acostumados a um debate análogo no âmbito interno, quando discutimos a alíquota do Imposto de Renda para as diferentes classes socioeconômicas, por exemplo. Mas ele também se aplica, mutatis mutandis, ao comércio externo.
Os dados da nossa balança comercial com os EUA não indicam desvantagem para o país de Trump. Segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), nossa balança comercial com os EUA está praticamente equilibrada. Em 2024, as exportações brasileiras para eles somaram US$ 40,3 bilhões, enquanto nossas importações de produtos norte-americanos atingiram US$ 40,5 bi.
Desde 2009, porém, o Brasil tem registrado déficits na balança comercial com os Estados Unidos, importando mais do que exportando, sobretudo produtos manufaturados e de alto valor agregado pela tecnologia. Isso contradiz a suposta existência de uma relação desequilibrada em nosso favor.
Para ser equitativo, Trump poderia reconhecer que, embora as tarifas aqui aplicadas sejam, eventualmente, mais pesadas do que as praticadas por lá, historicamente a balança comercial tem pendido mais para o lado dos EUA.
E quem perde com uma guerra tarifária não são os políticos abusivos ou os ministros do Supremo, mas os produtores e o povo; todos os envolvidos na cadeia de produção e a própria economia nacional saem perdendo.
Isso, portanto, não é bom para ninguém. Como afirmou o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo, “o multilateralismo está sob ataque e as tensões comerciais têm aumentado. Uma guerra comercial não tem vencedores, apenas perdedores”.
E aí vem a segunda questão: até que ponto as declarações de Lula e as canetas nervosas do STF não são, realmente, responsáveis por esse backlash de Trump?
O presidente brasileiro e a Suprema Corte de fato promovem, como afirma a carta que Trump lhe enviou, uma “caça às bruxas” contra opositores vistos como perigosos à manutenção do status quo.
É o caso das pessoas simples, trabalhadores, pais e mães de família, presos às vezes por estarem protestando pacificamente no 8 de janeiro de 2023, e do próprio ex-presidente Bolsonaro.
Também é uma verdade amplamente conhecida que a nossa Suprema Corte, como aponta Trump em sua carta, “emitiu centenas de ordens de censura secretas e ilegais às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado de mídia social brasileiro”.
Depois, Lula tem se alinhado cada vez mais a países conduzidos por líderes nada democráticos, como Cuba, China, Rússia, Venezuela e Irã, cujo regime Lula defendeu recentemente, ao condenar os ataques de Israel e dos EUA e defender a continuidade do programa nuclear iraniano como se fosse um direito sagrado.
Enquanto isso, nossa vizinha Argentina costura um valioso acordo de tarifa zero para 80% das suas exportações para os EUA. A Federação Israelita de SP já declarou, com precisão, que o atual governo brasileiro prefere “o caminho da retórica ideológica e não da responsabilidade diplomática”. Mas os nossos produtores não merecem pagar a conta por tanta irresponsabilidade.
Não defendo uma sujeição irrestrita do Brasil aos norte-americanos, mas sim uma articulação mais criteriosa da nossa soberania
Se prestigiarmos mais nossas relações com nações livres e cristãs (não apenas com os EUA, mas inclusive com nossos vizinhos mais democráticos) do que com o bloco socialista, a própria defesa da nossa independência geopolítica estará mais assegurada.
É evidente que nós não podemos controlar o que Trump faz ou deixa de fazer, mas poderíamos, sem dúvida, tornar o Brasil mais alinhado com a principal potência do Ocidente que é, também, nosso segundo maior parceiro comercial. Isso, se o atual morador do Alvorada não fizesse ouvidos moucos à voz da razão.
Em suma, a inconsequente geopolítica lulopetista explica muito da atitude do presidente norte-americano. E o melhor, a essa altura, seria que o Brasil repensasse suas posturas internas para com a oposição e redefinisse suas alianças globais, para retomar as negociações com Washington, em favor dos melhores interesses comerciais dos nossos bravos produtores.
Com sensatez, diálogo e cooperação, poderemos trilhar um caminho para um comércio global realmente equitativo e vantajoso para o Brasil.
Valdemar Bernardo Jorge, advogado e mestre em Direito Econômico e Social, foi professor convidado na Escola Superior da Magistratura Federal do Paraná, na Faculdade da Indústria IEL e na UniCuritiba. Foi secretário de Planejamento e Projetos Estruturantes, secretário do Desenvolvimento Sustentável e atualmente é secretário da Justiça e Cidadania (SEJU).



