“Um Homem determinado”: esperança, perseverança e amadurecimento no cinema

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O filme Um Homem Determinado apresenta uma espécie de biografia existencial de Franklin Delano Roosevelt, ex-presidente norte-americano nas décadas de 1930/40, ao abordar o drama pessoal vivenciado pelo líder político ao ser acometido por poliomielite, aos 39 anos de idade, em 1921. Essa doença obrigou Franklin a mudar de vida e a assumir a condição de deficiente em um período da história em que enfermidades físicas geravam enorme preconceito social e impediam carreiras políticas, além de não haver tratamento médico adequado à época.

Nessa perspectiva temática, Um Homem Determinado, do diretor Joseph Sargent (2005) oferece valiosas e surpreendentes reflexões para aqueles que dedicarem um tempo para assistir a esse drama histórico, que revela um período quase desconhecido da história de vida do ex-presidente dos EUA, mais conhecido por sua atuação durante a II Guerra Mundial.

Até que ponto o ser humano é motivado por valores ou então transformado pelas experiências de vida, para abraçar novas virtudes rumo a um amadurecimento em sua existência?

Uma questão importante surge a partir da seguinte reflexão: até que ponto o ser humano é motivado por valores ou então transformado pelas experiências de vida, para abraçar novas virtudes rumo a um amadurecimento em sua existência? Assim, nada melhor do que observar as atitudes e sensações humanas apresentadas em boas narrativas de filmes para que possamos meditar nos aprendizados da vida, enquanto associamos o prazer do lazer a um melhor conhecimento da existência.

O título original do filme, Warm Springs, remete a uma região interiorana do estado da Geórgia (EUA), onde Roosevelt buscou atendimento terapêutico assim que soube dos poderes miraculosos das águas medicinais de uma pousada simples. O título é apropriado ao filme, pois praticamente todo o enredo busca apresentar a experiência pessoal e relacional do ex-presidente assim que ele se dedicou a se curar nas águas aquecidas da região.

Um Homem Determinado foca no drama pessoal de Roosevelt, ao destacar as dificuldades e a própria impossibilidade da cura de sua deficiência, entremeado pelas transformações de sua personalidade a partir dos novos valores que ele abraça, movido pelos relacionamentos que desenvolve inicialmente com os humildes moradores do lugar e, mais tarde, com outros enfermos que se dirigem à pousada em busca dos “milagres das águas”.

Dessa forma, ao visualizar os encontros e desencontros do ex-presidente na pousada terapêutica, os espectadores podem partilhar de momentos diversos em que as mais diferentes dificuldades de vida dos deficientes físicos, de todas as idades e classes sociais, se fizeram conhecidas do então líder político, Roosevelt — o que acaba por tocar profundamente sua mente e coração.

Diante dessa nova realidade, junto às sensações de dores e do desânimo, as virtudes do sentimento da compaixão e dos atos de bondade também começam a brotar na personalidade de Roosevelt, de modo que podemos refletir sobre a maneira como cada um de nós reage às mais diversas experiências diante do sofrimento e das dificuldades do próximo, em nossa peculiar história de vida.

O filme Um Homem Determinado nos dá a oportunidade de perceber o quanto essas situações são necessárias para a transformação da personalidade, pois visualizamos experiências que se tornam oportunidades geradoras de uma valiosa transformação existencial — a partir do momento em que podemos assumir valores e praticar novas virtudes, conforme o modo como abordamos as situações da vida.

Nesse contexto de uma dinâmica existencial reflexiva, sabe-se que a filosofia aponta o potencial humano de conter e semear valores na personalidade, os quais irão se tornar virtudes práticas assim que reagirmos com bons princípios de moral diante das necessidades. Numa perspectiva religiosa, aprendemos na tradição judaico-cristã tanto sobre a origem interior e transcendente da virtude quanto sobre a condição do homem de semear e desenvolver tais valores, conforme explica Jesus de Nazaré, ao propor a necessidade da conversão para que o ser humano consiga transformar o seu caráter: "Uma árvore é identificada por seus frutos. Se a árvore é boa, os frutos serão bons. Se a árvore é ruim, os frutos serão ruins (...) A pessoa boa tira coisas boas do tesouro de um coração bom, e a pessoa má tira coisas más do tesouro de um coração mau." (Evangelho de Mateus, cap. 12, versos 33-35).

Ao anotar alguns dados da produção e da dinâmica narrativa do filme, observamos que Joseph Sargent teve uma carreira comum como um competente e versátil diretor de cinema norte-americano nas décadas de 1960 até 1980, seguindo com algumas produções até lançar seus últimos e interessantes filmes, Quase Deuses (2004) e Um Homem Determinado, sendo que, neste, o premiado ator e diretor Kenneth Branagh assumiu o papel de protagonista, interpretando o ex-presidente Roosevelt.

A competência e experiência do diretor Joseph Sargent, aliadas à criteriosa produção fílmica norte-americana em dramas históricos, junto às interpretações do bom elenco de coadjuvantes liderados pelo grande ator Branagh, oferecem aos espectadores uma narrativa de cinema de qualidade acima da média.

Os talentos da produção e direção são utilizados para dramatizar os temas do enredo de forma natural e verídica no decorrer da história, desenvolvendo as reações emocionais e intelectuais do protagonista a partir das experiências relacionais do ex-presidente em sua providencial estadia na pousada de tratamento de enfermos.

O filme Um Homem Determinado se torna um drama valioso ao apresentar com profundidade essas experiências vivenciais de Roosevelt, refletindo a maneira como a personalidade humana pode aproveitar as sensações e conhecimentos relacionais da vida para amadurecer rumo a um crescimento existencial verdadeiro do ser. Bom filme!

Ivan Santos Rüppell Júnior é autor do livro, Resenhas espirituais de meditações cinematográficas, Editora Dialética, 2020.