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Como a violência foi banalizada dentro das universidades

Celebrar a morte de Charlie Kirk é barbárie política. (Foto: Imagem criada utilizando Chatgpt/Gazeta do Povo)

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Recentemente, com a morte do ativista conservador Charlie Kirk em uma universidade do estado de Utah, nos Estados Unidos, durante uma palestra aberta ao público, mostrou-se a consequência trágica de um fenômeno que há tempos vem se intensificando e assolando as universidades – a banalização da violência pelo simples fato de as pessoas terem ideias divergentes, principalmente nos campus universitários.

Em um piscar de olhos, Charlie foi atingido por um tiro no pescoço que ceifou sua vida e expôs milhares de pessoas a um horror sanguinário, ao vivo e sem qualquer censura. A situação, embora extremamente trágica, foi suficiente para fazer com que vários estudantes não apenas aceitassem a violência, mas também a aprovassem e até a incentivassem. Não estamos falando de agentes, guardiões ou soldados de uma ditadura, mas de jovens universitários que possuem base intelectual e frequentam espaços acadêmicos.

Com a polarização política dos últimos tempos, a intolerância de certos grupos sociais faz com que seus seguidores confundam liberdade de expressão com liberdade de agressão, representando, portanto, um risco à democracia e à pluralidade de ideias

O fato não ficou restrito apenas aos Estados Unidos. No Brasil, um estudante de Biologia da UFES foi preso após planejar um ataque ao deputado federal Nikolas Ferreira. Outro estudante de Direito da USP acabou sendo desligado do cargo de estagiário após ameaçar de morte o mesmo deputado. Caso houvesse, de fato, um ataque, estaríamos diante de um novo ato de violência política – que certamente teria enormes repercussões devido à influência de Nikolas Ferreira.

De fato, a filósofa Hannah Arendt foi visionária ao elaborar a Teoria da Banalidade do Mal por meio de seu livro Eichmann em Jerusalém (1963), no qual afirma que o mal não é necessariamente explícito. Ele se insere em nosso meio quando indivíduos carentes de pensamento crítico e sem capacidade moral de refletir sobre suas ações passam a aceitar a violência ao deixarem de refletir sobre ela – principalmente quando são levados pela ideologia e pelo comportamento de manada. O que se vê, portanto, nas universidades é um aumento preocupante da banalidade do mal e da violência em nome de ideologias, sem qualquer possibilidade de reflexão e pensamento crítico.

É uma pena que as universidades, lugares conhecidos por serem centros de ciência, inovação, pensamento crítico e pluralidade de ideias, estejam sendo tomadas por ondas de ódio e violência propagadas por grupos que se utilizam dos discursos não mais para divulgar ideias, mas para promover e desejar a aniquilação explícita do próximo por meio da agressão e do extermínio. Ironicamente, os mesmos que se diziam contra as armas agora se acham no direito de atacar qualquer um que discorde de seus ideais. Assim, cria-se um ambiente em que a liberdade de expressão é confundida com liberdade de agressão, a pluralidade de ideias é implodida e a barbárie toma conta por meio da imposição da lei do mais forte.

Ademais, quando falamos em liberdade de expressão, é preciso ter em mente que todos devem ter o direito igualitário à livre manifestação, sem que o indivíduo sofra qualquer tipo de censura ou coerção – seja por parte do Estado, seja por outros indivíduos. No entanto, com a polarização política dos últimos tempos, a intolerância de certos grupos sociais faz com que seus seguidores confundam liberdade de expressão com liberdade de agressão, representando, portanto, um risco à democracia e à pluralidade de ideias. Afinal, quando a liberdade de expressão é confundida com a liberdade de agressão, toda a sociedade se torna vítima do silenciamento e da violência.

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Se o filósofo Karl Popper ainda estivesse vivo, lamentaria ver a distorção feita sobre o Paradoxo da Tolerância em sua obra A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945), da qual se extraiu apenas o trecho “Devemo-nos, então, reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante”. Ele próprio afirmava que filosofias intolerantes devem ser combatidas por meio de argumentos racionais e colocadas em xeque diante da opinião pública. Mais do que isso, Popper dizia que a supressão dessas ideias seria imprudente e que o uso da força só seria justificável se os enganadores ensinassem seus seguidores a responder a argumentos racionais com punhos ou pistolas.

Por fim, a morte trágica de Charlie Kirk é um aviso de que os intolerantes, quando não estão preparados para o debate e para a argumentação racional, utilizam-se da violência para alcançar seus fins de modo perverso – por meio da censura, do silenciamento e da aniquilação de seus opositores, estejam dentro ou fora das universidades. No entanto, a violência jamais eliminará discursos, e Charlie Kirk se tornará imortalizado por se expressar, mesmo que seus posicionamentos não tenham agradado a todos em vida.

Guilherme Silva Esparza é coordenador do Instituto Atlantos e do Students For Liberty Brasil.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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