Amanhã é Natal. É o dia a partir do qual contamos os anos; o dia em que, 2015 anos atrás, o inimaginável aconteceu: o Criador de tudo o que existe – das galáxias, dos mares, das imensas cordilheiras – tornou-se um bebezinho, filho de uma mocinha de 15 anos, num país ocupado, nascido num estábulo por falta de abrigo mais digno. O Infinito não só se tornou finito, mas Se tornou minúsculo, desprotegido, carente, absoluta e completamente dependente: tornou-se, em suma, humano.
É esta, afinal, a condição do ser humano. Mentimos para nós mesmos ao nos acharmos importantes com nossos títulos, automóveis e propriedades, mas somos sempre tão dependentes quanto o bebê que Deus quis ser, 2015 anos atrás. Dependemos de ar para respirar, de água para beber, de comida, de abrigo, de companhia, de amor, de justiça, de auxílios tantos e tão vários que eu nem saberia enumerar. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, saída para qualquer parte”... e mesmo assim ainda muito nos falta.
O Natal é a ocasião do maior ato de humildade que já foi feito, de algo que poderia ser dito impossível se não houvesse ocorrido
Aristóteles disse que o homem é um animal naturalmente social. Ser social significa ser dependente do próximo e do distante; quanto mais só, menos feliz e menos confortável pode o homem ser. A primeira sociedade, a sociedade da qual todas as outras se formam, é aquela que estava em torno do Menino-Deus na gruta em Belém: a família. A ela uniram-se, chamados pelo Anjo, os vizinhos que pastoreavam seus rebanhos na região e, seguindo a Estrela, os reis viajantes de terras distantes: vieram o próximo e o distante, trazendo seus presentes, sua companhia, seus cuidados – sua sociedade, em suma –, unindo-se assim àquela família improvável, desprovida até mesmo de hospedagem decente, em que Deus Se fez homem.
Nesta noite e no dia de amanhã, repetimos tudo o que ocorreu 2015 anos atrás: as famílias se unem, reconhecendo-se como célula primeira e mais necessária da sociedade; damos presentes; tentamos, muitas vezes sem nem sequer entender bem o porquê, ter mais paciência para com o próximo e acolhê-lo melhor.
Esta festa não é do Papai Noel, ainda que ele seja bem-vindo. Não é nem sequer um mero aniversário de alguém amado. É muito mais do que tudo isso: é a ocasião do maior ato de humildade que já foi feito, de algo que poderia ser dito impossível se não houvesse ocorrido. O Verbo se fez carne, a família se fez sagrada, a sociedade passou a poder se santificar. Como círculos concêntricos que se formam em águas plácidas quando jogamos uma pedra, as consequências de Deus fazer-se homem vão se espalhando, chamando a tudo e a todos para unir-nos a Ele.
Primeiro na família.
Depois, junto ao próximo.
Depois, ainda, junto aos mais distantes.
Sigamos o Anjo, sigamos a Estrela.
Feliz Natal.
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