Pesquisas, sabe-se muito bem, são retratos do momento específico em que são feitas, e só uma série histórica mais prolongada permite falar em tendência ou em opinião consolidada da população. Mesmo assim, não caíram nada bem entre o petismo os números trazidos por uma recente pesquisa Datafolha, que deu ao presidente Lula a menor aprovação e a maior reprovação, considerando todos os seus três mandatos. Apenas 24% dos entrevistados consideraram seu governo “ótimo” ou “bom”, contra 41% que o avaliaram como “ruim” ou “péssimo” – são números piores que os exibidos por Jair Bolsonaro no mesmo momento do mandato (aprovação de 31% e reprovação de 40%).
O susto não se deu apenas pelos números em si, mas pela velocidade com que a aprovação do presidente se deteriorou, com queda de 11 pontos porcentuais em apenas dois meses – no mesmo período, a reprovação cresceu sete pontos. Além disso, a popularidade de Lula caiu de forma ainda mais acentuada entre grupos historicamente mais propensos a apoiar o petismo: 16 pontos no Nordeste (de 49% para 33%), 15 pontos entre negros e entre quem ganha até dois salários mínimos (de 44% para 29% nos dois casos) e 14 pontos entre as mulheres (de 38% para 24%). A cereja do bolo foi a queda de 20 pontos entre os que disseram ter votado em Lula em 2022 (de 64% para 44%).
Aliados de Lula culparam especialmente dois fatores pela queda na popularidade do presidente: a “crise do Pix”, com a enorme repercussão negativa de uma norma da Receita Federal sobre monitoramento de operações financeiras, e a escalada recente nos preços de vários produtos, graças à disparada na cotação do dólar iniciada no fim de novembro, com a divulgação do pífio pacote fiscal de Fernando Haddad, e que só agora começa a ser revertida. Se uma das razões pode ser considerado um episódio isolado, a outra é bem mais complicada de lidar. Em outra pesquisa divulgada recentemente, da Quaest, 8 em cada 10 brasileiros afirmaram que os preços dos alimentos subiram recentemente; a percepção é idêntica tanto entre os mais pobres quanto entre os mais ricos e a classe média.
A popularidade de Lula caiu de forma ainda mais acentuada entre grupos historicamente mais propensos a apoiar o petismo
Para melhorar sua imagem, Lula já colocou seu marqueteiro da campanha de 2022 na Secretaria de Comunicação Social, e deve fazer uma série de viagens pelo país. No entanto, já deu mais tiros no pé, como ao sugerir que a população simplesmente deixasse de comprar algo que julgasse estar caro, esquecendo-se de que se trata de alimentos e produtos de primeira necessidade, e não de supérfluos. Dentro do petismo, há a convicção de que Lula deveria fazer uma “guinada à esquerda” em seu governo. É o momento em que surge a tentação de turbinar ainda mais a gastança e o populismo que caracterizam os governos petistas e que, mesmo dando resultados de curto prazo, contratam crises no médio e longo prazo, como bem sabe qualquer brasileiro que se recorde dos últimos dez anos.
Lula aposta, por exemplo, no projeto que isenta do Imposto de Renda os brasileiros que ganham até R$ 5 mil mensais. A medida, lida isoladamente, é até elogiável, pois sabe-se que a defasagem acumulada na tabela do IR entre 1996 e 2024 varia de 125% a 167%, dependendo da faixa de renda, segundo a Unafisco, e cada ano sem correção pela inflação representa, na prática, um aumento de impostos. No entanto, é preciso também observar que não se sabe, ainda, como os estimados R$ 45 bilhões que o governo deixaria de arrecadar anualmente com a medida seriam compensados, já que não há a menor perspectiva de que o governo realize algum corte de gastos dessa mesma magnitude. A isenção sem uma compensação, no fim, prejudicaria ainda mais a saúde fiscal do país, já muito debilitada.
Um presidente que entendesse o mínimo de economia, ou que se dispusesse a ouvir quem entende, saberia que mais irresponsabilidade fiscal leva a mais inflação e perceberia o risco de uma elevação populista nos gastos – a bem da verdade, um presidente com essas características nem teria iniciado o processo de gastança que levou à atual perda do valor de compra da moeda brasileira. Mas Lula não é esse presidente; ele segue jurando que não há crise fiscal no país, o que deixa a porta aberta para o governo “fazer o diabo para ganhar a eleição”, nas palavras de uma certa ex-presidente que fez exatamente isso e contratou a maior recessão da história do país.