O investidor estrangeiro está cada vez mais desconfiado em relação ao Brasil. Um levantamento da Guide Investimentos, publicado pelo site Poder360 na última segunda-feira, mostra que o risco-país brasileiro teve a segunda maior alta em 2024, entre todas as economias do G20. O Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, uma espécie de seguro contra calotes, subiu de 133 para 166 pontos-base, uma alta que perde apenas para a da Argentina, que sofre as dores do necessário choque liberal de Javier Milei e cujo CDS passou de 1.456 para 2.589 pontos-base.
Hoje, entre as economias do G20, o Brasil tem o quarto maior risco-país, perdendo para a Argentina, a Turquia – com 276 pontos-base em 21 de junho, menos que no início do ano – e a África do Sul (210 pontos-base, apenas 6 a mais que em janeiro). A título de comparação, o risco-país dos Estados Unidos é de 36 pontos-base; o do Japão, 22; e o da Alemanha, o mais baixo do G20, é de apenas 10 pontos-base.
Em termos proporcionais, o Brasil também faz feio. O aumento de 25% no seu CDS é menor apenas que os de Argentina (alta de 78%), França (elevação de 50%, de 24 para 36 pontos-base) e Coreia do Sul (alta de 33%, 27 para 36 pontos-base). No caso francês, a disparada se concentra toda nos últimos 30 dias, marcados pela derrota do grupo do presidente Emmanuel Macron nas eleições para o Parlamento Europeu e o anúncio de novas eleições para a Assembleia Nacional do país, que ocorrerão neste fim de semana.
A desconfiança refletida no aumento do risco-país não tem nada de gratuita. É mera reação às palavras e ações de Lula
No caso brasileiro, o histórico do CDS mostra que o risco-país teve queda em 2023, ano em que o mercado financeiro ainda demonstrou alguma boa vontade para com Lula, já que o governo conseguira aprovar um arcabouço fiscal que, embora objetivamente ruim, ainda era melhor que as políticas defendidas por alas mais vocais do PT. No entanto, o movimento de alta recomeçou em meados de março deste ano, quando o risco-país estava em 120 pontos-base, marca que havia sido atingida pela última vez ainda antes da pandemia de Covid-19.
O que temos visto, nesses últimos meses, é a deterioração de vários indicadores de saúde fiscal do país – o déficit nominal do setor público consolidado, no acumulado de 12 meses até abril, bateu o recorde registrado na pandemia – e a boquirrotice cada vez maior do presidente Lula. O petista não perde uma oportunidade de atacar o Banco Central, a única instituição que está realmente trabalhando para conter a inflação no Brasil, com críticas cada vez mais ácidas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Além disso, Lula continua insistindo que não é necessário realizar nenhum ajuste fiscal ou corte de gastos. Nesta quarta-feira, em entrevista ao portal UOL, o presidente da República afirmou que “o problema não é que tem que cortar. O problema é se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação”, mantendo sua aposta na política de arrancar cada vez mais dinheiro de contribuintes e empresas para manter as contas minimamente ajustadas. E, quando não está torcendo o nariz publicamente para a ideia de reduzir as despesas, Lula está sofismando, criando confusão entre “gasto” e “investimento”, como se ambos não representassem dinheiro saindo dos cofres públicos, e como se Lula não estivesse chamando de “investimento” certas despesas que nenhum manual decente de contas públicas classifica desta forma.
Até mesmo Dilma Rousseff já demonstrou que sabia ligar os pontos quando, em um debate na campanha presidencial de 2014, acusou os adversários de “plantar inflação para colher juros” – a frase deixava implícito que juros altos eram consequência de inflação alta no presente ou perspectivas de inflação alta no futuro. O que Dilma, em seu terraplanismo econômico, ignorava ou queria ignorar é que a inflação alta era consequência, entre outros fatores, de gasto público ilimitado, aquele mesmo que era “vida”, para recordar outra frase célebre da ex-presidente. Lula vai pelo mesmo caminho, com a desvantagem de nem mesmo ser capaz de entender a relação de causa e consequência entre inflação e juros.
A desconfiança refletida no aumento do risco-país, portanto, não tem nada de gratuita. É mera reação às palavras e ações de Lula, que não apenas rejeita qualquer plano de corte de gastos como ainda sabota dia sim, dia também, os responsáveis por uma política monetária que só é contracionista porque precisa se contrapor a uma política fiscal abertamente expansionista. O risco-Brasil, hoje, pode muito bem ser chamado de risco-Lula.
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