
Neste fim de semana, dois atiradores, pai e filho, levaram o terror à Praia de Bondi, uma das mais populares de Sydney, na Austrália, matando 16 pessoas (até o momento; ainda há feridos em estado crítico), incluindo uma menina de 10 anos, um sobrevivente do Holocausto, e dois rabinos. A tragédia poderia ter sido ainda maior, se não fosse pela coragem de algumas pessoas que lutaram contra os terroristas para tirar-lhes as armas: um deles, Ahmed al-Ahmed, foi ferido; outro, o sexagenário Boris Gurman, acabou morto junto com a esposa. Um dos atiradores, Sajid Akram, o pai, foi morto pela polícia; o filho, Naveed, foi ferido e está hospitalizado – ele já tinha sido investigado por suspeita de ligações com organizações extremistas.
Não há dúvida alguma de que se tratou de um ato claramente antissemita. O atentado ocorreu em uma praia movimentada, mas os atiradores não atacaram indiscriminadamente; seu objetivo era uma festa judaica, pois o domingo era o primeiro dia do Hanukkah, ou “festival das luzes”. O feriado instituído na Antiguidade para celebrar uma importante vitória dos judeus em uma época de perseguição foi o dia escolhido pelo terror para mostrar aos judeus da atualidade que eles continuam a ser alvo simplesmente por serem quem são, independentemente do que pensem ou deixem de pensar sobre o conflito entre israelenses e palestinos.
Os ataques a judeus têm crescido em número e intensidade desde que Israel iniciou sua contraofensiva na Faixa de Gaza, em resposta à barbárie terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023
O terror em Sydney é a aplicação do slogan “globalizar a intifada” – referência a sucessivos levantes palestinos contra Israel, que não raro recorrem à violência contra civis. É ingenuidade acreditar que esse clamor para levar ao mundo inteiro um conflito que é territorialmente localizado significa apenas reunir apoio global à causa palestina ou à solução de dois Estados: os ataques a judeus têm crescido em número e intensidade desde que Israel iniciou sua contraofensiva na Faixa de Gaza, em resposta à barbárie terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. Só na Austrália, a média anual de ataques antissemitas (incluindo vandalismo, agressões e incêndios em sinagogas e outras instalações da comunidade judaica) quintuplicou desde a ação do Hamas.
Chamar a atenção para a espiral de antissemitismo, no entanto, não pode levar a generalizações infundadas, como a que associa o ataque em Sydney ao fato de a Austrália ter reconhecido o Estado palestino em setembro deste ano. Defender a solução de dois Estados como forma de encerrar o conflito israelense-palestino é uma posição legítima que nem de longe significa apoiar, incentivar ou mesmo tolerar o terrorismo islâmico, ou defender que judeus sejam expostos à violência; associar este reconhecimento diplomático ao terror antissemita, como fez o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, é uma acrobacia lógica que não faz sentido – até porque o governo australiano, em seu comunicado, defendeu a necessidade de os palestinos reconhecerem o Estado de Israel e afirmou que “a organização terrorista Hamas não pode ter papel algum na Palestina”.
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A apologia do genocídio nas universidades norte-americanas; as manifestações de rua no Brasil que incluem a defesa dos terroristas do Hamas; a caça a torcedores de um time de futebol israelense em Amsterdã; os tumultos causados por militantes para impedir que palestrantes exponham o ponto de vista de Israel em debates em faculdades brasileiras (o caso mais recente ocorreu na Faculdade de Direito da USP, em que os vândalos da liberdade de expressão calaram André Lajst, da StandWithUs Brasil); os mapas que indicam os locais de instituições ou negócios ligados a judeus em grandes cidades dos Estados Unidos – tudo isso é a tal “globalização da intifada”. Um discurso inaceitável, mas que ainda está longe de receber a ampla condenação merecida.



